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O que podemos aprender com a Sagrada Família de Nazaré?

Os relacionamentos entre Jesus, Maria e José revelam-nos muito do amor de Deus. Eles possuem lições preciosas para nós!

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A família é uma instituição fundamental para a sociedade. Nela, aprendemos a conviver e a perdoar. Não é exagero afirmar que uma sociedade com famílias saudáveis é certamente uma sociedade saudável.

A Igreja está sempre perto das famílias e com elas se preocupa. Uma e outra estão intrinsecamente relacionadas. Chega a ser artificial pretender separar a Igreja das famílias que a constituem.  

Se a família se pode chamar “igreja doméstica”, à Igreja aplica-se justamente o título de família de Deus. Portanto, "o espírito familiar" é uma carta constitucional para a Igreja: assim deve parecer e ser o cristianismo. [1]  

Em nossa caminhada de fé, não podemos ignorar a importância da vida familiar. O próprio Senhor Jesus nos deixou um caminho de meditação. O Verbo de Deus se fez carne e habitou entre nós, inclusive na família humana.

A família, fundada no matrimônio indissolúvel, unitivo e procriador, pertence ao «sonho» de Deus e da sua Igreja para a salvação da humanidade. [2]

Neste artigo, vamos aprender com a Sagrada Família lições essenciais para a nossa vida familiar.  Você entenderá como ela nos ensina a viver em oração, cheios de simplicidade e desapego, com obediência e respeito.

Família: Casa de Oração.

Como terá sido a vida de oração da Sagrada Família? Nós não conhecemos os pormenores que a nossa curiosidade gostaria de saber, mas sabemos que ali está o modelo para toda família cristã. Assim como nós, Jesus também teve que aprender a rezar.

O Filho de Deus que se tornou Filho da Virgem aprendeu também a rezar segundo seu coração de homem. Aprendeu as fórmulas de oração com sua mãe, que conservava e meditava em seu coração todas as “grandes coisas” feitas pelo Todo-Poderoso. [3]

Em família, aprende-se a rezar! Essa é a primeira lição que a Sagrada Família nos ensina. Nós, como católicos, não podemos deixar de ensinar a oração aos mais jovens. Eles devem aprender, desde cedo, a dialogar com o Pai.

Você sabia que a vida de oração não se resume às nossas invocações orais, como o terço e as ladainhas? Elas são práticas muito bonitas, mas devem abrir o caminho para a meditação cristã.

Para o católico, meditar significa escutar a Deus. Quando, por exemplo, meditamos um trecho do Evangelho, nós permitimos pela meditação do trecho lido que ele se aplique à nossa vida concreta a fim de escutarmos a vontade de Deus.  

A meditação é sobretudo uma procura. O espírito procura compreender o porquê e o como da vida cristã, a fim de aderir e responder ao que o Senhor pede. [4]

Muitos são os caminhos da meditação cristã. É comum que se recorra a livros, sobretudo aos Evangelhos, mas você poderá meditar até mesmo ao contemplar uma imagem sagrada que toque o seu coração.

Os métodos de meditação são diversos quanto os mestres espirituais. [5]

Talvez você já pratique a meditação cristã sem conhecê-la pelo nome. É que, no santo terço,  nós meditamos os mistérios de Cristo, dezena a dezena. O que acontece em nós quando rezamos o terço? Há uma interação entre invocações, pensamentos, imaginação. Somos levados a um lugar interior em que Cristo nos fala. Isso é meditação.  

Você costuma rezar o terço em família? É um exercício indulgenciado pela Igreja. Lembre-se de que a nossa família católica deve ser uma casa de oração, como a Sagrada Família.

Simplicidade e Desapego

Por que será que nada era pomposo em Nazaré? Jesus, Maria e José viviam na simplicidade, sem luxo algum. Eram pessoas pobres, trabalhadoras. Em um mundo obcecado pela riqueza, o desapego da Sagrada Família é uma lição para todos nós.

Não há mal em possuir os bens necessários para a vida, mas tenhamos cuidado para que o nosso coração não fique preso a eles. Se não formos capazes de viver como Jesus, não estaremos livres para segui-lo. Trata-se de uma questão de liberdade interior.

A Sagrada Família de Nazaré. Pintura de Bartolomé Esteban Murillo.
Onde estiver o teu tesouro, lá estará também o teu coração. (Mt 6, 21)

Como devemos viver, então? É preciso assumir o dever de cada dia, temperado e sustentado pela vida de oração. Cada um deve cumprir a missão que Deus lhe confiou. Essa era a vida da Sagrada Família. Agindo assim, podemos transformar a vida em sacrifício de oblação a Deus.

No ritmo dos dias transcorridos em Nazaré, entre a casa simples e a oficina de José, Jesus aprendeu a alternar oração e trabalho, e a oferecer a Deus também a fadiga para ganhar o pão necessário para a família

O trabalho possui uma dignidade espiritual muito elevada. Trabalhando, nós cooperamos com Deus em Sua obra de salvação para a humanidade. Não importa qual trabalho seja feito, mas que seja feito por amor a Deus.

Há uma verdade tremenda contida no fato de que, quando Deus se tornou homem, tornou-se trabalhador. (...) Ele devolveu ao trabalho do homem a sua dignidade original, a sua função essencial como união ao ato criativo de Deus. [6]

Você valoriza o seu trabalho? Lembre-se de que o valor do trabalho não está na glória do mundo, mas no amor com que se serve a Deus. A Sagrada Família, escondida em Nazaré, nos ensina a valorizar todo serviço que prestamos ao próximo, inclusive o mais simples, dentro e fora de casa.

A Obediência dos Humildes

A obediência não é uma virtude em alta hoje em dia. Há quem chegue a considerá-la um defeito moral. Nós, porém, não seguimos os mestre do mundo. O nosso modelo é Jesus, cuja vida foi permeada pela obediência.

Jesus desceu, então, com seus pais para Nazaré e era-lhes submisso. (Lc 2, 51a)

Também Maria e José eram muito obedientes. Quando o anjo Gabriel anunciou a Maria sua vocação, Ela acatou a vontade de Deus sem pedir explicações (Lc 1, 38). E José, visitado pelos anjos em sonho, cumpriu o que devia fazer sem titubear (Mt 2, 13-14).

A obediência é uma característica das almas fortes e humildes. [7]

Você já percebeu que os orgulhosos não conseguem obedecer a nada, nem a ninguém? Eles não aceitam servir o próximo, a menos que haja alguma recompensa. Sempre buscam a si mesmos. Pretendem colocar-se no centro de tudo porque não têm humildade.

A verdadeira humildade, longe de provir de uma falta de clarividência, de capacidade, deriva de um profundo conhecimento da grandeza infinita de Deus e da nulidade da criatura, que por si mesma, nada é. [8]  

Já na Sagrada Família temos o exemplo oposto: a mais profunda humildade! Tudo ressoava o mistério de Cristo. O Verbo de Deus veio na carne, assumindo assim toda a natureza humana, inclusive a vida familiar. Os relacionamentos entre Jesus, Maria e José revelam-nos muito do amor de Deus.

Juntamente com a assunção da humanidade, em Cristo foi também «assumido» tudo aquilo que é humano e, em particular, a família, primeira dimensão da sua existência na terra. [9]  

Neste ponto, chegamos à hierarquia na família. Na Sagrada Família, havia uma clara hierarquia entre seus membros. Mas é importante observarmos que se tratava de uma expressão de como o Senhor Deus quer que nós nos relacionamos uns com os outros.

O centro de toda autoridade familiar deve ser o cuidado com o próximo, sobretudo o mais frágil. A vida familiar organiza-se assim em torno da caridade, do zelo. Os filhos devem, desde cedo, aprender a preocupar-se com os necessitados.

A família deve viver de maneira que seus membros aprendam a cuidar e a responsabilizar-se pelos jovens e pelos velhos, pelos doentes ou deficientes e pelos pobres. [10]

É justo que os filhos recebam bastante atenção na família, no entanto também eles possuem deveres a cumprir. A Lei de Deus estabelece que honrem seus pais. Causa tristeza perceber que, hoje em dia, não são poucos os filhos que desobedecem aos pais.

O quarto mandamento dirige-se expressamente aos filhos em suas relações com seu pai e mãe, porque esta relação é a mais universal. [11]

Como são os relacionamentos em sua família? Existe humildade entre os membros? Geralmente, um sinal de que falta humildade é a dificuldade de perdoarem-se uns aos outros. Talvez seja um bom momento para colocar em oração a reconciliação familiar.

Família, um Tesouro

A família é um grande dom de Deus. Nós devemos acolhê-lo com respeito, cultivando suas relações. Talvez você enfrente desafios em sua vida familiar, mas saiba que a Sagrada Família está sempre ao seu lado. Aproveite o Natal deste ano para favorecer, no que estiver ao seu alcance, o amor entre seus parentes.

Sagrada Família de Nazaré, nossa família vossa é!

Referências

[1] Papa Francisco. Discurso de Inauguração do Ano Judiciário do Tribunal da Rota Romana. 22 de janeiro de 2016.

[2] Ibid.

[3] Catecismo da Igreja Católica, 2499.

[4] Catecismo da Igreja Católica, 2705.

[5] Catecismo da Igreja Católica, 2706.

[6] Padre Walter J. Ciszek .Pelos Vales Escuros. São Paulo: Quadrante, 2018 p. 145-146.

[7] Michel Gasnier. José, o Silencioso São Paulo: Quadrante, 2020. p. 178.

[8] Garrigou-Lagrange. O Salvador e Seu Amor por Nós São Paulo: Cultor de Livros, 2021. p. 276-277.

[9] Papa João Paulo II. Redemptoris Custos, 21.

[10] Catecismo da Igreja Católica, 2208.

[11] Catecismo da Igreja Católica, 2199.