Virgem Maria
Nossa Senhora

O Nascimento da Virgem Maria

O nascimento de Maria, embora envolto em silêncio, foi um acontecimento extraordinário para o cumprimento das promessas de Deus ao seu povo.

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A Igreja celebra a festa da Natividade ou Nascimento de Maria no dia oito de setembro. Foi nesta data que a uma importante basílica foi construída em Jerusalém, sobre a casa onde a família de Nossa Senhora viveu.

Há séculos [a festa da Natividade de Maria]  foi estabelecida a 8 de Setembro, data em que em Jerusalém foi consagrada a basílica construída em cima da casa de Santa Ana, mãe de Nossa Senhora. [1]  

A data faz menção a outra. Nove meses antes da Natividade de Maria, a Igreja celebra a Imaculada Conceição. São duas ocasiões correlacionadas entre si. Deus não envia alguém em missão sem conceder-lhe antes as graças necessárias ao seu pleno cumprimento.

Para ser a Mãe do Salvador, Maria “foi enriquecida por Deus com dons dignos para tamanha função”. No momento da Anunciação, o anjo Gabriel a saúda como “cheia de graça”. Efetivamente, para poder dar o assentimento livre de sua fé ao anúncio de sua vocação era preciso que ela estivesse totalmente sob a moção da graça de Deus. [2]  

No artigo de hoje, vamos meditar sobre a Natividade de Maria. Primeiro, veremos por que esta festa é importante. Ela deve encher os nossos corações de alegria! Em seguida, vamos meditar sobre o sentido espiritual que a Natividade de Maria tem para a nossa vida. Não se trata de uma mera recordação histórica, dissociada do presente.  Há um fruto espiritual que devemos colher.  

A Festa de um Mundo Novo

Ao instituir uma festa dedicada à natividade de Maria, a liturgia da Igreja nos ensina que a devoção à Nossa Senhora é um caminho seguro para a adoração a Jesus porque tudo em Maria diz respeito a seu Filho.

A obra de Deus no coração de Maria foi plenamente direcionada a Cristo. Ela foi ornada com graças extraordinárias a fim de que pudesse colaborar com o advento de um novo tempo para a humanidade.

Tanto a tradição cristã quanto a liturgia da Igreja ensinam que Maria foi concebida como qualquer ser humano, dentro da tradição familiar dos seus pais. Entretanto, com seu nascimento inicia-se na história uma nova criação. Nela, o Criador desejou abrir um novo tempo para a história humana e para o mundo. [3]

Algumas pessoas que não conhecem as Sagradas Escrituras deturpam o plano de Deus. Pretendem negar a Maria o papel que lhe foi dado pelo Senhor. Chegam a cogitar que Maria seria uma mulher qualquer. Trata-se de um grave erro, pois o Senhor Deus não realiza planos de improviso.

A festa da Natividade de Maria é uma boa ocasião para renovarmos em nosso coração a devoção a Maria. Prestando bastante atenção nas leituras e orações da festa, podemos aprender que o nascimento da Santíssima Virgem é indissociável das promessas do Antigo Testamento.  

A educação da Virgem Maria, pintura de Giovanni Francesco Romanelli.
A liturgia que é escola privilegiada da fé nos ensina a reconhecer no nascimento de Maria uma ligação direta com a do Messias, Filho de Davi. [4]

A obra de Salvação foi revelada nas profecias e prefigurações do Antigo Testamento. A missão de Maria não foi uma casualidade, mas sim uma predestinação determinada por Deus desde a eternidade. Ela nasceu para ser a Mãe de Jesus.    

Desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré da Galileia. [5]

Talvez um exemplo nos ajude a entender melhor. Sete séculos antes da vinda de Jesus, o profeta Miquéias transmitiu uma profecia da parte de Deus. Nela, ao anunciar que o Messias esperado por Israel haveria de nascer na pequena Belém, o profeta tratou de vinculá-lo àquela que daria à luz.        

Mas tu, Belém de Éfrata, pequena para estar entre as tribos de Judá, de ti, para mim, sairá o que há de ser o dominador em Israel. Suas origens são desde tempos antigos, desde dias longínquos. Por isso, ele os entregará até o tempo em que a parturiente der à luz (Mq 5, 1-2a)

É bonito ver como Jesus e Maria aparecem sempre unidos! Você já percebeu que nada é vão nas Sagradas Escrituras? Até os seus mínimos detalhes revelam-nos o cuidado e o amor de Deus por nós.

O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. [6]

É por isso que, já no nascimento de Maria, podemos começar a vislumbrar o renascimento da humanidade em Cristo. O Senhor tomou a iniciativa de vir a nós por meio de Maria, em cujo seio assumiu a nossa humanidade.  

Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento faz-nos intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper. [7]

Vimos até aqui que a festa da Natividade de Maria possui um fundamento teológico muito profundo. Quem faz pouco caso da Mãe de Deus ainda não entendeu o mistério do Filho de Deus. Veremos agora de que modo o nascimento de Maria pode alimentar a nossa vida de oração hoje.

Um Fecundo Silêncio

Com o nascimento de Maria, a plenitude dos tempos começou a tomar forma. Antes mesmo que Jesus fosse concebido pelo poder do Espírito Santo, o rosto de Maria já assegurava a Israel que as promessas de Deus a Israel, escritas no Antigo Testamento, estavam para cumprir-se.

Quando se completou o tempo previsto, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei. (Gl 4, 4)

Hoje em dia nós temos dificuldade de entender a expectativa causada por aquela longa preparação para a vinda de Cristo. É que nós achamos normal que o Senhor já tenha vindo. No entanto, não foi assim naquela geração. O período de espera havia durado séculos, e muitos estavam cansados.  

A vinda do Filho de Deus à terra é um acontecimento de tal imensidão que Deus quis prepará-lo durante séculos. [8]

Quando a Virgem Maria nasceu, o tempo previsto estava finalmente chegando. À semelhança da pequena nuvem que, no tempo do profeta Elias, antecedeu uma grande chuva (1Rs 18, 41-46), o nascimento de Maria foi um pequeno sinal silencioso de que alguém maior viria.

Este silêncio seria uma marca presente em toda a vida de Maria. Ela não quis atrair atenção para si mesma, nem buscou controlar o curso dos acontecimentos. O silêncio de Maria é prova de uma santidade inigualável.  

Toda a vida da mãe de Jesus é banhada de silêncio. Entre os evangelistas, apenas Lucas e João falaram realmente da Santíssima Virgem Maria. [9]

Essa é uma grande lição para nós! Há quem pense que o silêncio significa inação de Deus. São pessoas que esperam barulho, espetáculo. Mas Deus não é assim! Ele sempre age em nossas vidas, mas nem sempre nós temos olhos para ver. Quem espera no Senhor sabe aguardar os Seus tempos.  

As grandes obras de Deus são fruto do silêncio. Só Deus é testemunha e com Ele, os que têm uma visão sobrenatural das coisas, os que fazem silêncio e vivem da presença do Verbo silencioso, como a Virgem Maria.

Estejamos atentos para tudo que a natividade de Maria pode ensinar-nos sobre o silêncio de Deus. Imagine-se naquela época. Poucas pessoas devem ter percebido que a Menina nasceu, talvez tenha havido até quem a ignorasse deliberadamente. No entanto, aquele foi um dos maiores acontecimentos da história da humanidade!

E não foi o único! Assim como Maria, também Jesus nasceu no silêncio. Em seguida, viveu muitos anos no silêncio com Maria e José. Este fato deve provocar uma questão em nosso coração: será que, em nossa vida espiritual, damos o devido valor ao silêncio?

Seu nascimento é cercado de solidão e silêncio. Por trinta anos, ninguém o ouviu. Cristo vive em Nazaré numa grande simplicidade, recolhido no silêncio. [10]

Um Caminho Necessário

Para conviver com a Palavra de Deus, precisamos silenciar outras palavras em nosso coração. O mundo é tagarela e sedutor. Aprender a valorizar o silêncio na oração é um caminho necessário.

Na vida de oração, precisamos de apoio, pois sempre corremos o risco de ficar longe de nós mesmos, invadidos por todos os tipos de ruídos, sonhos e lembranças. A leitura silenciosa da Bíblia é o melhor instrumento. [11]

Peça a intercessão de Nossa Senhora para examinar a sua vida de oração. Será que você consegue silenciar interiormente para escutar o que Deus lhe fala? O silêncio não é fácil, mas é possível.

Que Nossa Senhora Menina interceda por todos nós!  

Referências

[1] Papa Bento XVI. Homilia de 07 de setembro de 2008.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 491.

[3] Dom Leomar Brustolin. Eis a tua Mãe: Síntese de Mariologia. São Paulo: Paulinas, 2017. p. 64.

[4] Papa Bento XVI. Homilia de 07 de setembro de 2008.

[5] Catecismo da Igreja Católica, 488.

[6] Constituição Apostólica Lumen Gentium, 56.

[7] Papa Francisco. Homilia de 08 de setembro de 2017. Viagem Apostólica à Colômbia.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 522.

[9] Cardeal Robert Sarah. A Força do Silêncio: contra a Ditadura do Ruído. São Paulo: Edições Fons Sapientiae, 2019. p. 138.

[10] Ibid, p. 123.

[11]Ibid, p. 61.