O rosário é uma das orações mais tradicionais da Igreja. Ele é simples e profundo, sempre acessível. Pode ser rezado completo ou dividido em terços. O importante é que a oração brote do coração.
O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. [1]
Muitos santos se dedicaram ao rosário com afinco, e os papas propagaram a sua prática formalmente. Mas o que nós queremos chamar atenção hoje é que Nossa Senhora veio do Céu muitas vezes pedir para que rezemos o rosário ou o terço, como em Fátima:
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou: - Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra. [2]
O rosário é uma presença frequente nas aparições de Maria. Você sabia que, em Lourdes, a Virgem Maria deu o exemplo rezando o terço com Santa Bernadette? É um sinal claro da sua presença amorosa durante esta oração.
Passado esse primeiro susto, vem-lhe a idéia de rezar. Sinal da cruz, terço, troca de sorrisos e de saudações farão o fundo de todas as aparições. [3]
Em outras aparições menos conhecidas, Maria falou do terço. Você já ouviu de uma aparição de Maria na cidade polonesa de Gietrzwałd? Ocorreu em 1877. Nela, a Mãe de Deus pediu que os filhos rezassem o rosário ou terço durante um tempo de forte perseguição à Igreja.
Rezem o rosário, e seus problemas serão resolvidos. [4]
Por que será que Nossa Senhora insiste tanto na récita do rosário, ou do terço? Esse é o tema do artigo de hoje.
Concentrando-se em Cristo
Todos nós estamos sujeitos a muitas distrações em nossas vidas. Por vezes, não conseguimos executar uma simples tarefa com concentração porque algo nos atrai. Essa realidade não é nova para ninguém, mas parece que a tecnologia digital nos trouxe ainda mais desatenção.
A distração não é um problema que se restrinja às atividades práticas do cotidiano. Ela se alastra por toda a vida. É comum que nós enfrentemos distrações na vida de oração. Aprender a lidar com elas e atenuá-las faz parte do amadurecimento espiritual.
A dificuldade comum de nossa oração é a distração. [5]
Você já percebeu que o rosário é uma oração que nos ajuda a combater a distração? É porque ele envolve o corpo e a alma. Não se pode rezá-lo sem dedilhar as contas, em posição piedosa; nem se deve rezar sem meditar os mistérios no coração. É uma oração bem completa.
No mundo atual tão dispersivo, esta oração ajuda a colocar Cristo no centro, como fazia a Virgem, que meditava interiormente tudo o que se dizia do seu Filho, e depois o que ele fazia e dizia. [6]
“Cristo no centro”. Esse conselho do papa é de grande sabedoria. Se quisermos que o nosso coração esteja enraizado no Coração de Jesus, temos que aprender com a Virgem Maria a conhecer o seu Filho.
Quando se recita o Rosário revivem-se os momentos importantes e significativos da história da salvação; percorrem-se as várias etapas da missão de Cristo. Com Maria orienta-se o coração para o mistério de Jesus. Põe-se Cristo no centro da nossa vida. [7]
Até aqui aprendemos que o rosário é um exercício espiritual que coloca a vida em ordem, a partir de Jesus. Veremos, na seção abaixo, como se dá a presença de Maria quando rezamos o rosário.
Rezando com Maria
Não há coração que conheça melhor Jesus que o de Maria. Sua presença maternal nos introduz, mais e mais, na intimidade com Cristo. Ela sabe como cada momento de nossas vidas se liga à dezena meditada.
Quem, como Maria e juntamente com Ela, guarda e medita assiduamente os mistérios de Jesus, assimila cada vez mais os seus sentimentos e conforma-se com Ele. [8]
Talvez, por isso, a meditação dos mistérios seja tão simples. Rezá-lo é “estudar” a vida de Jesus. A cada vez que meditamos um dos mistérios da vida de Jesus, como o Batismo ou a Transfiguração, nós unimos a nossa alma à do Senhor. Essa intimidade transforma o nosso coração.

A meditação sobre os mistérios e sobre as orações do Rosário é a mais fácil de todas as orações, pois o estudo da diversidade das virtudes e dos estados de Jesus recria e fortifica de forma maravilhosa o espírito e impede as distrações. [9]
Ao invocar Maria, nós aprendemos que Deus fala no silêncio de nossos corações. Não há contradição alguma entre invocação e silêncio. Ambos nascem do desejo de escutar a Deus, que fala suavemente (cf. 1 Rs 19, 12)
O Rosário é escola de contemplação e de silêncio. À primeira vista, poderia parecer uma oração que acumula palavras, portanto dificilmente conciliável com o silêncio que é justamente recomendado para a meditação e a contemplação. Na realidade, esta repetição ritmada da Ave-Maria não perturba o silêncio interior, aliás, exige-o e alimenta-o. [10]
Em um mundo tagarela, Maria nos ensina o valor do silêncio para a vida interior (Lc 2, 19). Silenciar não é calar; não é ausentar-se de produzir sons. É uma atitude de reconhecimento da presença de Deus entre nós.
[A silêncio de Maria] não é apenas ausência de vozes. Não é o vazio de ruído. Também não é o resultado de uma ascética particular baseada na sobriedade. É, ao contrário, o invólucro teológico de uma presença, o casulo de uma plenitude, o ventre que guarda a Palavra. [11]
Já meditamos sobre o que é o rosário. Vimos também que a presença de Maria nos acompanha em nossa oração. Chegou a hora de meditarmos sobre a intensidade desta via de oração.
Combate e Perseverança
Não são poucos os cristãos que aspiram a uma vida de oração intensa, com muita devoção e amor. E essa é uma ótima aspiração! Ela sugere que o nosso coração está voltado para o alto. Todos nós devemos mesmo desejar o que é santo.
Se ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está entronizado à direita de Deus; cuidai das coisas do alto, não do que é da terra. (Cl 3, 2)
A busca da santidade não ocorre sem luta. Toda vez que entramos em oração, lutamos contra as nossas misérias e contra os inimigos espirituais. Estes se põem em batalha contra nós porque querem nos arrastar à rebelião espiritual.
A oração é um combate. Contra quem? Contra nós mesmos e contra os embustes do Tentador, que tudo faz para desviar o homem da oração, da união com seu Deus. [12]
No combate da oração, nós temos uma grande arma. Ela é o rosário! Não são poucos os santos que, como São Luís Maria Grignion de Montfort, nos deixaram o valioso conselho de rezarmos o rosário com perseverança.
Se quiser chegar a um alto grau de oração sem, no entanto, cair na ilusão do demônio - tão comum nas pessoas que rezam -, reze o Rosário completo ou pelo menos o terço todos os dias, se for possível. [13]
Alguns fiéis conseguem rezar o terço todo dia. Há ainda aqueles que pediram e receberam a graça de rezar o rosário completo com frequência. Em todo caso, é de suma importância que a pessoa seja perseverante.
Se, pela graça de Deus, já chegou a esse ponto [isto é: a oração diária do rosário] e quer continuar e crescer na humildade, mantenha a prática do Santo Rosário, pois jamais uma alma que o reza diariamente será formalmente herege ou enganada pelo demônio; esta é uma proposta que eu assinaria com meu sangue. [14]
Essa admirável proposta não significa que quem reza o rosário terá uma vida livre de provações. Não consta que Jesus tenha feito essa promessa a ninguém! Existem sofrimentos necessários para o nosso crescimento.
As dificuldades e dores suportadas por amor a Deus nos fortalecem em nossa caminhada espiritual. Elas são um meio de vivermos com intensidade o doloroso processo de santificação pessoal (Cl 1, 24).
A oração não suprime a dor física ou a angústia mental. Ainda assim, dá certa força moral para suportar a provação com paciência. [15]
Todo Dia
Nossa Senhora é nossa mãe. Ela quer o melhor para cada um de nós. Quando nos pede para rezarmos o rosário ou o terço todo dia, é porque temos necessidade. Vivemos tempos difíceis, porém recebemos os meios para perseverar. O rosário é um deles.
Como é a sua relação com o terço? E com o rosário? Você já experimentou rezá-lo na paróquia, perto do sacrário? Costuma rezar em quais circunstâncias? Será que sua oração se tornou rotineira, ou é sempre nova? Essas são algumas reflexões que convém que nós façamos.
Que Nossa Senhora do Rosário interceda por todos nós!
Referências
[1] João Paulo II. Rosarium Virginis Mariae, 1.
[2] Irmã Lúcia. Memórias da Irmã Lúcia I. 13.ª ed. Fátima: Secretariado dos Pastorinhos, 2007. p. 174.
[3] René Laurentin. Sentido de Lourdes. Editora Vozes p. 38.
[4] Catholic Answers. As Aparições Marianas que Você não Conhece.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 2729.
[6] Discurso do Papa Bento XVI. 03 de maio de 2008.
[7] Ibid.
[8] Ibid.
[9] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Admirável Segredo do Rosário. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2018 p. 74.
[10] Discurso do Papa Bento XVI. 19 de outubro de 2008.
[11] Don Tonino Bello. Maria, Mulher de Nossos Dias. São Paulo: Paulinas, 2024. p. 89.
[12] Catecismo da Igreja Católica, 2725.
[13] São Luís Maria Grignion de Montfort. O Admirável Segredo do Rosário. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2018 p. 75.
[14] Ibid, p. 75-76.
[15] Padre Walter Ciszek. Pelos Vales Escuros São Paulo: Quadrante, 2018. p. 74.






