Sagradas Escrituras

Por que Jesus é chamado na Bíblia de “Filho do Homem”?

A expressão “Filho do Homem” é um título que se alarga até incluir toda a humanidade. Jesus não veio apenas para os judeus, mas para todos nós. Sua missão é a de ser o Novo Adão.

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Filho de Deus, Filho de Davi, Messias - esses são alguns dos títulos que os evangelistas usaram para falar de Jesus. Cada um tem um sentido espiritual profundo e nos revela algo a mais do Senhor.

Em meio às muitas formas de invocar Jesus, uma nos chama atenção. Ele é o Filho do Homem.  Trata-se de um título que somente Jesus empregou, em relação à Sua identidade. O que será que Ele queria dizer chamando-se de Filho do Homem?

Ninguém O chamou por esse título, mas Ele o usou para referir-Se a Si pelo menos oitenta vezes; tampouco Se chamou “um Filho do Homem”, mas “o Filho do Homem”. [1]

Neste artigo vamos entender qual é o sentido deste título e por que Jesus o aplicava a Si mesmo. Primeiro, vamos visitar o Antigo Testamento. Ele é a referência mais próxima nesse tema. Em seguida, vamos aprender o que o título “Filho do Homem” tem a ver com o mistério da Encarnação. Neste momento, comentaremos uma consequência prática desse mistério. Depois, veremos que ele traz o anúncio da vitória da Ressurreição. Por fim, aprenderemos que o título nos ensina que Jesus é o Homem Perfeito.

Homem de Carne e Osso

“Filho do Homem” é uma expressão bastante antiga. Ela remonta à época do Antigo Testamento, quando chegou a ser usada mais de cem vezes. Geralmente tinha o sentido de “ser humano” em geral, como neste salmo:

Que é o ser humano, para dele te lembrares, o filho do homem, para que o visites? (Sl 8, 4)

Mas a expressão “Filho do Homem” podia também ser usada para invocar um homem em particular. É o que lemos, por exemplo, na Profecia de Ezequiel, escrita no século VI antes de Cristo:

Ele me disse: “Filho do homem, põe-te de pé! Quero falar contigo!” (Ez 2, 1)

É interessante  observar que o relato dos Evangelhos dão a entender que Jesus chegou a empregar o termo “Filho do Homem” para indicar que Ele era um ser humano em concreto, de carne e osso.

Jesus parece falar de si mesmo dessa forma, provavelmente para enfatizar a sua total solidariedade para com a humanidade. [2]  

Era uma forma de o Senhor enfatizar que tinha um corpo humano como o nosso. Assim, por exemplo, Ele sentia cansaço, fome e sede. É por isso que falamos da “humanidade de Jesus”. Você já ouviu essa expressão? Ela significa que Jesus, embora seja Deus, é homem como nós, exceto no pecado.

Jesus é o “Filho do Homem”  porque ele possui um verdadeiro corpo humano (Jo 6, 53) e tem aptidão para as atividades humanas, como descansar (Mt 8, 20), comer e beber (Lc 7, 34) e até mesmo ser sepultado (Mt 12. 40). [3]  

Esse é um mistério tão grandioso que até os Apóstolos tiveram dificuldade de escutar. Certa vez, já se aproximando o tempo da Paixão, o Apóstolo Filipe pediu ao Senhor que lhes mostrasse o Pai.

Filipe disse: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta” (Jo 14, 8)

Jesus explicou então que a Sua vida revela o Pai porque Ele e o Pai são um só! Não é possível acessar o Pai sem Jesus, como Filipe pensou. É somente em Cristo que nós podemos ter acesso ao Pai invisível.

Jesus respondeu: “Filipe, há quanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, viu o Pai. Como tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? (Jo 14, 9)  

Olhando para Jesus durante essa conversa, Filipe via um homem. E vendo o homem Jesus, via o Pai! Essa verdade nos ensina que Deus veio a nós na carne. Mas Ele veio não como Pai, mas como Filho. Agora, ao nosso lado, Ele diz “Pai”.

Rosto de Homem

Antes de avançarmos, convém salientar uma consequência prática da Encarnação para a nossa vida de Igreja. Algumas pessoas nos criticam por termos imagens. Mas é importante saber que as imagens são uma expressão concreta da fé de que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

É que, na época do Antigo Testamento, Deus era estritamente invisível. Ninguém podia desenhá-lo. No entanto, a partir do momento em que o Filho se encarnou no seio de Maria, Ele passou a ser visível em Cristo (Cl 1, 15).  

Como Deus assumiu um rosto humano, tornou-se permitido representá-lo de forma artística. Essa é uma das razões pelas quais podemos produzir imagens sagradas. O Filho do Homem é o Filho de Deus.  A humanidade de Jesus não pode ser separada da Sua divindade!

As particularidades individuais do corpo de Cristo exprimem a pessoa divina do Filho de Deus. [4]

Caso você tenha interesse por este tema, vai encontrar mais reflexões no artigo “A Bíblia proíbe as imagens dos Santos?”.

Cristo Glorioso

Certa vez, quando Jesus estava com os Apóstolos em uma região longe de Jerusalém, perguntou-lhes o que pensavam de Sua identidade. É interessante observar que o Senhor se qualificou neste momento como o Filho do Homem:

Jesus foi à região de Cesareia de Filipe e ali perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (...) Então, disse-lhes: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16, 13b.15)

Foi em resposta a essa pergunta que Pedro declarou a fé da Igreja. O Filho do Homem é o Cristo, o Messias. Do encontro pessoal com a humanidade de Jesus chegamos à Sua autoridade divina.

Profissão de fé de São Pedro e entrega das chaves. Pintura de Guido Reni.
Como “Filho do Homem”, ele tem a autoridade para perdoar pecados (Mc 2, 10), suspender o sábado (Mc 2, 28) e julgar os homens por seus atos (Jo 5, 27); e ele mesmo afirma ser o enviado do céu (Jo 3, 31). [5]

Encontramos aqui um sentido de “Filho do Homem” que não é apenas o de um ser humano. Trata-se de um Messias glorioso, investido de autoridade divina. Para os homens que ouviam Jesus naquela época, era muito claro que o Senhor fazia uma alusão à Profecia de Daniel (Dn 7).  

Nela, o profeta Daniel relata que teve uma visão em sonho. Viu quatro feras perigosas (Dn 7, 3). Elas exerciam o poder de forma hostil. Mas elas não prevaleciam, pois um filho de homem recebeu todo poder, honra e reino. Seu reino jamais será destruído (Dn 7, 14).

Em uma de suas homilias, o Papa Bento XVI explicou que essa visão do Filho do Homem é uma profecia que se cumpre em Jesus Cristo. O Filho do Homem é também uma imagem do Cristo glorioso!

Esta visão do profeta, uma visão messiânica, é esclarecida e realiza-se em Cristo: o poder do verdadeiro Messias – poder que não mais desaparece e nunca será destruído – não é o poder dos reinos da terra que surgem e caem, mas o poder da verdade e do amor. [6]

Nós devemos nos encher de esperança quando ouvimos falar do Filho do Homem. Esse título nos ensina que Ele não é apenas um homem; é muito mais. Jesus é Deus, que se fez homem, por isso ressuscitou depois de ter sido crucificado e ascendeu aos Céus.

Quem, então, é este “Filho do Homem”? É Jesus Cristo, que venceu o mal e agora está entronizado no Céu, exercendo a sua realeza universal sobre o mundo por meio da Igreja (Mc 16, 19; At 7, 56; Ap 14, 14-16). [7]

O Homem Perfeito

Podemos entender agora que a expressão “Filho do Homem” é um título que se alarga até incluir toda a humanidade. Jesus não veio apenas para os judeus, mas para todos nós. Sua missão é a de ser o Novo Adão.

O título “Filho do Homem” significava que Ele representava não apenas os judeus, nem apenas os samaritanos, mas toda a humanidade. Sua relação com a humanidade era semelhante à de Adão. A raça humana tem duas cabeças: Adão e o novo Adão, Cristo. [8]  

Sendo o Novo Adão, o Filho do Homem torna-se um modelo para todos os homens. Ele é o Homem Perfeito. Aqueles que acolhem o Seu testemunho encontram n’Ele um modelo de vida insuperável.  

“O Filho do Homem” não era um homem particular, um homem pessoal, mas sim o Homem Padrão, o Homem Universal. [9]  

Essa expressão, que é um título, nos revela que Jesus é verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Ele é a Revelação Divina! O Filho se fez carne para nos salvar. Devemos responder com fidelidade a tudo que Ele nos pede em Sua Igreja.

Não deixe de suplicar em sua oração pessoal o dom da fidelidade para crermos em tudo aquilo que Jesus é.

Que Nossa Senhora interceda por todos nós!

Referências:

[1] Fulton Sheen. Vida de Cristo. São Paulo, SP: Molokai, 2024. p. 433.

[2] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Lucas: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2-15. p. 103.  

[3] Ibid, p. 103.

[4] Catecismo da Igreja Católica, 477.

[5] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Lucas: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2-15. p. 103.

[6] Homilia do Papa Bento XVI. Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, 25 de Novembro de 2012.  

[7] Scott Hahn & Curtis Mitch. O Evangelho de São Lucas: Cadernos de Estudo Bíblico. Campinas, SP: Ecclesiae, 2-15. p. 104.  

[8] Fulton Sheen. Vida de Cristo. São Paulo, SP: Molokai, 2024. p. 441.

[9] Ibid, p. 441.