Pelo fato de sermos seres humanos, criaturas inseridas no tempo e no espaço, é fundamental que consagremos a Deus não apenas nossos lugares, como as igrejas e outros espaços, mas também o nosso tempo. Essa consagração mostra que reconhecemos a soberania de Deus sobre toda a criação e que queremos viver de acordo com a Sua vontade.
Quando dedicamos certos períodos do ano à oração, à penitência e ao aprofundamento espiritual, estamos entregando a Deus o tempo que nos foi dado por Ele, buscando santificar nossas vidas e aproximar-nos ainda mais d’Ele.
No fundo, dedicar determinado tempo a Deus e, neste tempo, intensificar as práticas de piedade é uma forma de expressar nosso amor por Ele. Afinal, ninguém entrega de coração seu tempo a algo ou a alguém sem realmente desejar o bem do outro. No caso da Quaresma, nós nos dedicamos a ela porque almejamos que Deus seja ainda mais o Amor de nossas almas e do mundo.
Então, se você deseja amar a Deus mais intensamente, a Quaresma em honra ao glorioso São Miguel Arcanjo, o comandante do exército celestial, é uma oportunidade preciosa.
O Príncipe da Milícia Celeste
A Quaresma de São Miguel Arcanjo é um período de aprofundamento espiritual que começa no dia 15 de agosto, dia da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, e se estende até o dia 29 de setembro, festa litúrgica dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael. Clique aqui para ter acesso aos vídeos da Quaresma de São Miguel com o padre Alex Nogueira.
Durante esses 40 dias, a Igreja encoraja os fiéis a realizar práticas de penitência, oração e jejum em devoção a São Miguel Arcanjo, o Príncipe da Milícia Celeste, como assim ele é chamado na oração composta pelo Papa Leão XIII.
São Miguel é “Príncipe” porque este título indica sua alta posição de autoridade e comando. Segundo a Bíblia, ele é o anjo que lutou a favor de Deus contra os anjos que se rebelaram. Houve uma grande batalha celestial descrita no livro do Apocalipse (12, 7-9). Nesta passagem, São Miguel e seus anjos enfrentaram e derrotaram o dragão (Satanás) e seus anjos decaídos, expulsando-os do Céu.
O próprio nome “Miguel” indica como essa batalha foi vencida. Em hebraico, “Miguel” significa “Quem como Deus?”. É um nome que reflete humildade e reverência, afirmando que ninguém é comparável a Deus e destacando a supremacia Divina. Esta é a verdadeira arma do Arcanjo Miguel contra Satanás: a humildade.
Assim, a Quaresma de São Miguel não é apenas um momento de união com Deus e o Arcanjo Miguel, mas também uma oportunidade de crescimento espiritual. Por meio da prática da humildade, fortalecemos nossa fé e renovamos nosso compromisso com Deus, reafirmando nosso propósito de buscar a salvação das almas.
Origem em São Francisco de Assis?
Muitos acreditam que essa Quaresma teve origem com São Francisco de Assis, que, surpreendentemente, observava seis quaresmas ao longo do ano!
Não se sabe ao certo se foi São Francisco de Assis quem “criou” a Quaresma em honra a São Miguel ou se ele apenas ajudou a popularizá-la. O que é certo é que São Francisco tinha uma profunda devoção a São Miguel Arcanjo, a quem considerava um poderoso defensor da Igreja e dos fiéis contra as forças do mal.
Ao longo de sua vida, São Francisco teve experiências profundas em sua devoção aos Santos Anjos. Entre essas vivências, partilhamos a seguir duas passagens particularmente significativas:
São Francisco e a caverna de São Miguel Arcanjo
São Francisco de Assis fez uma piedosa peregrinação ao Monte Gargano, na Itália, onde se encontra a caverna da aparição de São Miguel Arcanjo, um importante evento na história da Igreja ocorrido no final do século V.
Curiosamente, ao chegar à entrada da caverna, São Francisco se deteve e não entrou no Santuário de São Miguel Arcanjo. Em um gesto de profunda humildade, ele se considerou indigno de adentrar o local onde o Arcanjo do seu Senhor havia aparecido. Em vez disso, permaneceu do lado de fora e orou ali mesmo. Para marcar sua presença como peregrino, São Francisco desenhou o sinal da cruz em uma pedra na entrada do santuário, que até hoje é venerada pelos visitantes.
Vemos que, ali, diante do Santuário erguido em honra a São Miguel, São Francisco desejou que sua alma refletisse a pureza do Arcanjo que, mesmo sendo poderoso em natureza e graça, sempre se curvou à vontade Divina. Como um servo fiel, o pobrezinho de Assis almejou ser um reflexo da reverência de Miguel, permitindo que a virtude da humildade guiasse sua decisão e gestos.
O Serafim, São Francisco e a Paixão na Quaresma
Foi durante a observância da Quaresma de São Miguel Arcanjo que São Francisco de Assis recebeu em seu corpo os estigmas, as marcas da Paixão de Cristo. Este evento extraordinário ocorreu em 1224, no Monte Alverne, na Itália, onde o santo se encontrava em retiro.
Em profunda oração, São Francisco teve a visão de um serafim crucificado. Os serafins são anjos da mais alta hierarquia celeste. Eles são conhecidos por arderem de amor a Deus devido à sua proximidade com o Criador. Deste serafim crucificado partiram raios de luz que perfuraram as mãos, os pés e o lado peitoral do santo de Assis.
Esse acontecimento é visto como um dos mais místicos na vida de São Francisco, refletindo sua profunda união com Cristo na Paixão e sua devoção a São Miguel Arcanjo. Foi um marco não só para ele, mas para toda a Igreja, pois São Francisco se tornou o primeiro santo conhecido a receber essa graça tão singular, os estigmas.
O que é importante para nós nesse episódio é que ele ultrapassa a experiência pessoal do santo. Deus quer também nos transmitir uma mensagem: a impressão dos estigmas em São Francisco durante a Quaresma de São Miguel sublinha a importância desse período na vida do cristão. Todo batizado é chamado a buscar uma união tão íntima com Cristo que participe de Seu amor redentor pelos homens, assim como o fazem todas as hierarquias dos Santos Anjos.
O aspecto distintivo da Quaresma
Voltando a refletir sobre a prática da Quaresma de São Miguel, podemos nos perguntar: o que a torna especial? O que a distingue das outras?
Enquanto a Quaresma em preparação para a Páscoa tende mais à busca pela conversão pessoal, a Quaresma de São Miguel Arcanjo se volta mais explicitamente à luta espiritual pela salvação das almas. Clique aqui e entre em ordem de Batalha com o Pe. Alex Nogueira.
É claro que a conversão pessoal é fundamental. A busca pela própria salvação e pelo crescimento em santidade é o objetivo de todo tempo quaresmal. No entanto, a figura de São Miguel Arcanjo nos lembra que, além de indivíduos, somos parte de um povo, e que o mundo inteiro é destinatário do amor de Deus. É o próprio Senhor quem nos diz isso em seu diálogo com Nicodemos:
“Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (São João 3, 16-17)
A Batalha que somos chamados a lutar
Irmãos, é a essa luta espiritual que Deus nos chama, uma batalha em que São Miguel Arcanjo nos encoraja e assiste. Essa luta é pela salvação e santidade, ou seja, pelo poder de Deus em nossas almas, em nossas famílias, em nossas cidades, em nosso país e em todo o mundo.
Lembrem-se! Nesta batalha quaresmal, nossas armas são espirituais: a oração constante e sincera, a penitência generosa e o aprofundamento espiritual. Tudo isso deve estar envolto em humildade, discrição e silêncio. Busquemos o anonimato, para que o foco esteja exclusivamente em Deus, e não em nós mesmos.
Serão apenas 40 dias. Vamos intensificar nossa prática de fé durante esse tempo. Que a confissão sacramental seja regular e, se possível, que a comunhão eucarística seja diária. Pratiquemos atos de caridade em segredo, amemos com ainda mais generosidade aqueles que nos são queridos, e também aqueles com quem temos dificuldade de nutrir bons sentimentos. E como podemos amar esses últimos? Rezando pela salvação deles!
Essa intensa entrega de amor a Deus e ao próximo, junto a São Miguel, faz o inferno arder de fúria, mas não devemos temer. Pelo contrário, cooperemos com Deus, com a Virgem Santíssima e com os Santos Anjos para que nossa fé se fortaleça cada vez mais e nossa santidade, pela humildade, resplandeça no mundo. Sejamos verdadeiros combatentes de Deus!
Que São Miguel seja para nós um modelo de obediência e fidelidade. Sigamos seu exemplo, certos de que, com ele ao nosso lado, podemos vencer toda luta espiritual e assegurar que a soberania de Deus prevaleça em nossos corações e no mundo.
Reze a Quaresma de São Miguel com o Pe. Alex Nogueira, clique aqui!