Vivemos em um mundo que não aprecia a pureza. Por todo lado, o pecado da carne é exaltado como se fosse um bem. Muitas modas são indecentes. Há bastantes divertimentos e costumes imorais. E não faltam programas de televisão que expõem impurezas ao público.
Assim é este mundo. Se, por exemplo, uma jovem aspira a uma vida pura, ela corre o risco de ser tachada de louca. Mas ela não deve desanimar. Nós somos chamados a confiar nossas vidas (alma e corpo) ao Senhor, que proclamou no Sermão da Montanha:
Bem-aventurados os puros no coração, pois eles verão a Deus. (Mt 5, 8)
Uma só Palavra de Nosso Senhor vale mais que toda a tagarelice do mundo. A pureza é um tesouro, e nós devemos lutar para sermos puros. Por isso, hoje nós vamos meditar um pouco sobre essa luta, com base no exemplo de vida da jovem e mártir Santa Inês.
Quem foi Santa Inês de Roma?
Santa Inês nasceu em Roma, no seio de uma família nobre. Era o século III ou IV. Consagrou-se a Deus muito jovem, fazendo um voto de castidade. No entanto, um pretendente quis casar-se com ela.
Relata a tradição que esse pretendente era filho do prefeito de Roma. Naquela época, as autoridades do Império Romano perseguiam a Igreja com fúria. Santa Inês foi tratada com especial crueldade.
Quando o Prefeito foi informado sobre a sua consagração, desencadeou sua vingança: Inês devia entrar no círculo das vestais, que ofereciam culto à deusa protetora de Roma. [1]
“Vestais” eram sacerdotisas que cultuavam a deusa romana Vesta. Tratava-se de mulheres virgens, que deviam praticar atos idolátricos. Santa Inês podia continuar virgem, desde que negasse a Jesus Cristo! Ela escolheu perseverar na fé. Foi, então, lançada ao prostíbulo da cidade:
A jovem recusou-se e a vingança tornou-se mais cruel: passou do templo ao prostíbulo, sendo exposta, na Praça Navona, entre as demais prostitutas. [2]
Apesar dessa afronta, ela não pecou porque não consentiu com o mal em seu coração. Santa Inês manteve-se firme em sua pureza até o fim. Seu martírio sempre teve uma forte repercussão na Igreja. É um ato de fidelidade que continua a tocar os nossos corações até hoje. São com estas palavras que o Martirológio Romano homenageia Santa Inês:
Deu em Roma o supremo testemunho da fé e consagrou com o martírio o fulgor da castidade. Venceu a tenra idade e o tirano, conquistou profunda admiração entre os gentios e recebeu a glória ainda maior junto de Deus. [3]
“Tenra idade” significa “pouca idade”. Santa Inês tinha apenas doze anos de idade quando recebeu a coroa do martírio, conforme deixou registrado Santo Ambrósio. [4] O seu exemplo de vida nos recorda que a pureza de coração é um tesouro preciosíssimo! Ela é a padroeira das jovens, das noivas e da pureza.
A Pureza de Coração
Algumas pessoas pensam que a pureza do coração é puramente espiritual, que não tem a ver com o corpo. Mas elas estão erradas. A Igreja ensina que a pessoa humana é um ser corporal e espiritual. Não é lícito desprezar a vida corporal, pois existe uma unidade da alma e do corpo:
O corpo do homem participa da dignidade da “imagem de Deus” [5]
Nesse sentido, “puros no coração” são aqueles que se submetem às exigências da santidade de Deus na alma e no corpo. Não é possível que o fiel católico busque uma santidade exclusivamente espiritual, sem observar a castidade:
Existe um laço de união entre a pureza do coração, do corpo e da fé [6]
Vamos agora enxergar esse “laço de união entre a pureza no coração, no corpo e na fé” na vida de Santa Inês, para aprendermos a aplicar a sua sabedoria em nossas vidas.
O Exemplo de Santa Inês de Roma
A luta pela pureza é essencial em nossa vida cristã. Ela envolve o corpo e a alma; e é um testemunho de fé. Mas não é fácil preservar-se em um mundo de impurezas. O exemplo de Santa Inês ilumina algumas realidades que são sempre atuais:
1. Pureza no coração:
Santa Inês foi fiel a seus votos. Uma vez decidida por Deus, não voltou atrás. Resistiu até mesmo à pressão do Império Romano. Seu coração era reto e indiviso, totalmente de Deus.
2. Pureza no corpo:
Santa Inês preservou a sua pureza virginal, mantendo a sua vocação até o fim. A sua pureza implicava uma maturidade espiritual e emocional muito grande. Só pode ser puro quem domina a si mesmo.
3. Pureza na fé:
Santa Inês não negociou a sua fé. Rejeitou o culto à falsa deusa Vesta, professando a fé católica. Bastava que negasse a Cristo para livrar-se do martírio, porém ela foi fiel.
Chegamos agora ao momento de olhar para a nossa vida. Os santos intercedem por nós, mas também nos dão o exemplo de como podemos viver na verdade.
Como podemos aplicar este exemplo em nossas vidas?
Podemos nos beneficiar do exemplo de Santa Inês de muitas maneiras. Seguem abaixo três sugestões práticas. Elas são boas, mas não esgotam o tema:
1. Fugir de Conteúdos Obscenos na TV
Fuja dos conteúdos pornográficos na televisão. Mas lembre-se que nem toda obscenidade é pornográfica. Também é obsceno ferir o pudor, que significa o respeito pela intimidade do outro de forma ampla. Não há pureza sem pudor.
A pureza exige o pudor [7]
É necessário que você cultive o respeito pela intimidade do outro em seu coração. Assim, por exemplo, não convém acompanhar programas de televisão que exponham brigas familiares de pessoas sem justa causa.
Por que assistir a estranhos brigando? Não é uma diversão saudável! É uma invasão de privacidade, uma falta de pudor. Mesmo que as pessoas queiram se expor, nós devemos respeitá-las em nosso coração. Há coisas que não nos dizem respeito.
2. Fugir das Mentiras
Hoje em dia muitas pessoas acham que mentir é normal. Mentem nas redes sociais. Mentem no currículo. Mentem para a família, os amigos, o chefe. Chegam a viver uma vida de mentiras.
Não minta! Fuja desta cultura da mentira. Lembre-se de que o pai da mentira é o diabo (Jo 8, 44). Não permita que a mentira encontre abrigo em sua alma. Não acredite que existem “mentirinhas inofensivas”. Não é lícito mentir:
O oitavo mandamento proíbe falsear a verdade nas relações com os outros. [8]
Santa Inês de Roma não mentiu e custou-lhe caro dizer a verdade, mas ela manteve-se firme na fé. O amor à verdade preservou-lhe o coração. Siga o seu exemplo.
3. Saber Usar a Internet
Quem tem mais idade recorda-se do mundo antes da internet. É justo reconhecer que ela abriu muitas possibilidades para as pessoas. Hoje em dia é mais fácil ter acesso a conteúdos católicos, como os desta página. No entanto, é preciso saber fazer um bom uso da rede, como ensinou o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais já em 2002:
A Internet põe ao alcance dos jovens, cuja idade é inusitadamente precoce, uma imensa capacidade de fazer o bem e também o mal, tanto para si mesmos como para os outros. [9]
Devemos cultivar um uso saudável da internet. Se você leu este texto até aqui, é porque está buscando uma formação católica. Isso é ótimo. Mas continue a buscar fontes confiáveis, evitando postagens soltas.
Tenha cuidado com o mau uso da internet. Não exponha o seu coração a qualquer imagem, nem desperdice o tempo que Deus lhe deu para a sua santificação. Você não se alimenta de qualquer comida, do mesmo modo não deve consumir qualquer conteúdo on-line. Existem conteúdos que transmitem valores hostis à fé da Igreja. Planeje o uso da internet. Decida o que quer assistir para não ser arrastado pelo volume de conteúdos, principalmente por aqueles mais viciantes como os formatos de vídeos curtos e pelos conteúdos obscenos abundantes nas redes sociais.
A Fidelidade é uma prova de fogo
O testemunho de Santa Inês de Roma nos ensina que devemos ter fidelidade. Sem fidelidade a tudo que a Igreja crê e ensina, não seremos puros de coração. O mundo vai em direção contrária, mas nós não temos que seguir o mundo. A nossa meta é Cristo!
Até que ponto nós lutamos pela pureza? Essa é uma questão que nós devemos levar para a nossa vida de oração. O Senhor prometeu que os puros no coração verão a Deus. É uma grande alegria escutar essa promessa! Mas temos que lutar.
Sejamos fiéis ao Senhor e à Sua Igreja, buscando a pureza de coração, corpo e fé.
Que Santa Inês de Roma interceda por nós!
Referências:
[1] Santa Inês: virgem e mártir
[2] Ibid.
[3] Martirológio Romano. 21 de janeiro. Santa Inês de Roma.
[4] De Virginibus, I, 2; P.L., XVI, 200-202.
[5] Catecismo da Igreja Católica, 364.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 2518
[7] Catecismo da Igreja Católica, 648.
[8] Catecismo da Igreja Católica, 635.
[9] Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais. Igreja e Internet, Nº 6.
