Santa Rita de Cássia foi uma mulher admirável que passou por dois estados de vida. Foi uma esposa dedicada e fiel que, depois de perder o marido e seus filhos, entrou para vida religiosa, tornando-se uma consagrada agostiniana.
Tendo vivido entre os anos de 1300 e 1400, esta Mulher extraordinária, honra da Itália e da Igreja, experimentou uma complexa vida humana e espiritual: menina pura e dedicada à oração; esposa exemplar e paciente; mãe amorosa e — após o trágico desaparecimento do marido e a prematura morte dos filhos — fervorosa religiosa agostiniana até à morte gloriosa. [1]
Esses foram anos agitados para a Igreja e a Europa. No entanto, Santa Rita não desviou o seu coração de Deus. Ela soube, a cada momento de sua vida, escutar o que o Senhor lhe pedia e responder com generosidade de coração.
Segundo o papa João Paulo II, a humildade e a obediência foram as virtudes mais evidentes na vida de Santa Rita. Tomando ao Crucificado como modelo, ela fez do sofrimento um ato de entrega de si a Cristo Crucificado.
Mas qual é a mensagem que esta Santa nos transmite? É uma mensagem que emerge da sua vida: humildade e obediência foram a via pela qual Rita caminhou para uma semelhança sempre mais perfeita ao Crucificado. [2]
A vida de Santa Rita foi um grande dom que Deus concedeu à Igreja. Mas nós precisamos saber escutar a mensagem que o Senhor quis dizer por meio da história de vida desta grande santa.
Mensagem e história estão intimamente ligados na vida dos santos: é da história que recebemos a mensagem. Na verdade, todo santo tem uma mensagem para levar à humanidade. Cabe a nós conhecê-la, aceitá-la, colocá-la em prática. [3]
Neste artigo vamos conhecer um pouco da vida de Santa Rita, para você escutar o que o Senhor diz à sua vida por meio dela. Primeiro, veremos que a fidelidade ao marido era uma expressão de sua fidelidade a Deus. Depois, vamos conhecer como a fé e o amor se encontraram na maternidade de Santa Rita. Em seguida, vamos conhecer como foi a vida de Santa Rita como consagrada.
Esposa Fiel
Na vida de todos nós existem acontecimentos decisivos que mudam o rumo de como até então vivíamos. Com Santa Rita, não foi diferente. Ainda jovem, casou-se e teve filhos. Mas o casamento não foi nada fácil.
Uma tradição relata que seu marido era um homem de temperamento difícil. Não nos convém especular a respeito da vida do casal. Basta sabermos que Santa Rita sofreu muito! O modo como ela reagiu ao sofrimento é uma lição para todos nós.
Rita, com sua simpatia, suportou a contumácia do marido e, durante dezoito anos, conviveu com ele em serenidade e harmonia admirada por todos. [4]
Essa é uma mensagem muito importante! A vida de Santa Rita é um exemplo de como viver o maior e o primeiro dos mandamentos, o amor (Mt 22, 36-37). Seus sentimentos foram feridos pelo marido, disso não há dúvida. Mas ela soube entregar suas feridas ao Senhor para que pudesse amar.
O amor não é apenas um sentimento. Os sentimentos vão e vêm. O sentimento pode ser uma maravilhosa centelha inicial, mas não é a totalidade do amor. [5]
E nós? Como reagimos com pessoas difíceis? Será que nós pagamos o mal com o bem, deixando-nos arrastar pelo desejo de retaliação? Ou será que temos a sabedoria de pedir ao Senhor que nos dê a Graça de amar?
Mãe Zelosa
O marido de Santa Rita converteu-se pouco antes de morrer. Mesmo assim, ele não teve uma morte natural. Foi assassinado por causa de desavenças passadas. Santa Rita ficou viúva, com dois filhos para criar.
Ela perdoou o assassino publicamente. Infelizmente, porém, seus filhos cresciam tomados de sentimentos de vingança. Por mais que ela se esforçasse por educá-los no perdão e no amor, os jovens se mantinham endurecidos.
Foi então que Santa Rita nos deixou um testemunho precioso de fé. Preocupada com o risco de os filhos se condenarem ao inferno, certamente pediu a Deus que mudasse o pensamento e a conduta dos dois jovens. Mas pediu também que, se fosse necessário para a salvação, eles fossem levados deste mundo antes de cometerem o mal.

Percebendo que o ânimo deles não cedia às orientações da mãe, temerosa da ofensa a Deus, que seria avassaladora, e movida por uma força de caridade e zelo sem precedentes, com as mais fervorosas orações implorou a Sua Divina Majestade que se dignasse a levar embora seus filhos, se com o tempo tivessem que se vingar da morte do pai. [6]
Santa Rita entendia que o maior bem que existe é a salvação da alma! É claro que ela não queria a morte dos filhos. Desejava que vivessem longos anos em estado de graça, mas pedia a Deus que vivessem pouco se fosse necessário para a salvação deles.
A sua súplica era um sacrifício que ofereceu a Deus pela salvação dos dois filhos, e o Senhor acolheu o seu ato de amor. Aos rapazes concedeu-lhes que não pecassem; e a Santa Rita, que se desapegasse mais e mais de tudo.
A bondade divina aceitou o holocausto que Rita ofereceu das suas próprias entranhas e, chamando a si aqueles jovens em muito pouco tempo, não só libertou sua serva da preocupação que a afligia, mas, separando-a perfeitamente do amor das criaturas, deixou-lhes espaço para dirigir todo o seu afeto ao Criador. [7]
E nós? Será que nos preocupamos com a salvação dos nossos filhos? Temos consciência de nossa responsabilidade espiritual? É bom e necessário pedir a Deus saúde, emprego e moradia. Mas será que nós nos esquecemos do essencial, que é a salvação?
Religiosa Agostiniana
Tendo perdido a família, Santa Rita passou a dedicar-se mais à oração. O Senhor foi-lhe tocando o coração. Ela começou a discernir que o desejo de tornar-se religiosa agostiniana era a sua vocação.
Não foi fácil obter a admissão no Mosteiro de Santa Maria Madalena. Naquela época, o costume estabelecido era de que somente virgens fossem acolhidas como postulantes à vida religiosa.
Como o assunto era discutido mais de uma vez em Capítulo, a fervorosa mulher, com todos os seus votos em conformidade, era sempre excluída; porque, como era costume do mosteiro que só as virgens fossem recebidas, as monjas não poderiam ser facilmente persuadidas a vestir uma viúva. [8]
Mas Santa Rita soube perseverar na vocação a que o Senhor lhe chamava, aproveitando a dificuldade como uma provação. Nem sempre temos esta perseverança e acabamos por desperdiçar momentos de graça e crescimento.
No tempo oportuno, o Senhor interveio. Ocorreu, então, o milagre da entrada prodigiosa no mosteiro. Toda a paciência e mansidão de Santa Rita foi recompensada com a visita dos seus santos padroeiros durante uma noite, em que a transportaram para dentro do mosteiro.
Enquanto estava tímida e ansiosa, foi consolada por São João Batista, em cuja companhia viu chegar Santo Agostinho e São Nicolau de Tolentino. Estes três santos, tomando consigo a devota viúva, de forma incompreensível para ela, puseram-na dentro do mosteiro onde ela desejava viver e, deixando-a ali, desapareceram rapidamente. [9]
Ao despertar o dia, as irmãs do mosteiro - cujas portas estavam fechadas! - constataram que se tratava de um milagre. Obedecendo à vontade de Deus, admitiram Santa Rita como noviça. Ela viveu, então, quarenta anos no mosteiro.
Foi durante estes anos que Santa Rita suplicou ao Senhor que lhe concedesse uma graça muito especial. Tendo escutado a pregação do bem-aventurado Tiago de Marcas sobre as dores da Paixão, Santa Rita foi a seu quarto (cela monástica) e suplicou que o Senhor permitisse que ela participasse dos Seus tormentos. Foi então que ela recebeu o dom do espinho.
Com um milagre nunca antes visto, um espinho da coroa de Cristo lhe feriu de tal maneira a testa que, até à sua morte, a ferida ficou ali, incuravelmente impressa, como ainda se pode ver no seu santo cadáver. [10]
A mensagem da aceitação da cruz é essencial no Evangelho. Não há quem passe por este mundo sem sofrer, mas o modo como cada um reage ao sofrimento é bastante diferente. Há pessoas que se revoltam contra Deus; outras, porém, abraçam com Cristo a Cruz.
Sabemos que o sofrimento aceito em união com Cristo tem valor incomensurável: é prova de amor, dever de expiação, instrumento de salvação, meio de apostolado, fundamento, aliás, o fundamento, da bem-aventurada esperança. [11]
Neste ponto, a mensagem de Santa Rita é muito forte. Como será que nós lidamos com os sofrimentos involuntários que chegam a nós? Nós aceitamos a Cruz, ou murmuramos? Será que o nosso ideal é a salvação pela cruz, ou uma vida mundana feita somente de conforto e prazer?
Uma Vida Virtuosa
A vida de Santa Rita é um tesouro para toda a Igreja. Nela, nós encontramos uma mensagem de perdão e amor que Deus quis dizer ao mundo. Os santos nos ensinam a amar a Deus. E não só ensinam, eles também nos ajudam na caminhada.
Portanto, com tamanha nuvem de testemunhas em torno de nós, deixemos de lado tudo o que nos atrapalha e o pecado que nos envolve. Corramos com perseverança na competição que nos é proposta, com os olhos fixos em Jesus, que vai à frente da nossa fé e a leva à perfeição. (Hb 12, 1-2a)
Santa Rita contou com a ajuda dos seus santos padroeiros, como vimos acima. Hoje ela está no Céu, e nós podemos contar com a sua ajuda. Peçamos a intercessão de Santa Rita de Cássia, para que também nós cheguemos à alegria do Paraíso!
Santa Rita de Cássia, rogai por nós!
Referências:
[1] Papa João Paulo II. Visita Pastoral à Paróquia Romana de Santa Rita de Cássia. Homilia de 22 de Janeiro de 1984.
[2] Papa João Paulo II. Discurso do Santo Padre durante o Encontro com os Peregrinos e Devotos de Santa Rita e com os Cavaleiros do Trabalho. 20 de maio de 2000.
[3] Agostinho Trapè. Santa Rita e Sua Mensagem - “A Ele Entregou-se Inteiramente”. São Paulo, SP: Paulus, 2024. p. 13.
[4] Ibid, p. 26.
[5] Papa Bento XVI. Deus Caritas Est. 17.
[6] Agostinho Trapè. Santa Rita e Sua Mensagem - “A Ele Entregou-se Inteiramente”. São Paulo, SP: Paulus, 2024. p. 27.
[7] Ibid.
[8] Ibid, p. 28.
[9] Ibid, p. 29.
[10] Ibid, p. 30.
[11] Ibid, p. 184-185.