São Judas Tadeu é um dos santos mais amados da Igreja hoje em dia. Não são poucos os fiéis que recorrem à sua intercessão, sobretudo para as causas mais difíceis. Chegou a ficar conhecido como patrono dos desesperados.
Foi o povo que deu a São Judas o título de “O Santo dos desesperados”, expressão de devoção e confiança. [1]
É uma pena que nem sempre essa devoção venha acompanhada por um adequado conhecimento de quem foi São Judas Tadeu. Ele nos deixou um testemunho de fé muito profundo.
Você sabia que São Judas Tadeu foi escolhido por Deus para escrever um dos vinte e sete livros do Novo Testamento? É uma carta curta, porém impactante. Não só os devotos, mas todos os católicos devem conhecê-la bem.
Neste artigo vamos meditar sobre a herança que São Judas Tadeu nos transmitiu. Primeiro, meditaremos sobre um breve diálogo que o Apóstolo teve com o Senhor. Trata-se de apenas uma pergunta e sua resposta. Depois, veremos como esse diálogo nos ajuda a ler a Carta de São Judas Tadeu. Em seguida, vamos meditar sobre o conteúdo da carta, aplicando-o em nossa vida moderna. Por fim, deixaremos um convite à reflexão pessoal.
A profundidade do amor de Deus
Embora tenha escrito uma das cartas do Novo Testamento, não se encontram muitas menções a São Judas Tadeu nos Evangelhos. Uma notória exceção foi a pergunta que ele dirigiu ao Senhor durante a Última Ceia:
“Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós, e não ao mundo?” (Jo 14, 22)
Essa pergunta traz uma lição para nós. É normal ter dificuldade de entendimento. Ter fé não significa que tudo esteja claro. Pelo contrário, perante a falta de compreensão é que podemos crer.
A fé procura compreender. [2]
Buscar a resposta às nossas perguntas com alguém é um ato de confiança. Você já percebeu que nós só fazemos perguntas sensíveis para quem confiamos? Assim, por exemplo, uma criança não pergunta certas coisas aos estranhos, mas somente aos seus pais. Existem perguntas que requerem muita confiança.
O Senhor retribuiu a confiança de São Judas Tadeu. Nesse momento, revelou à Igreja um mistério extraordinário. São palavras que ecoaram na vida dos santos de todas as épocas e lugares.
Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e nele faremos a nossa morada .” (Jo 14, 23)
Cheio de amor, o Senhor falou de amor! Ensinou-nos que o coração humano é capaz de abrir-se, com ajuda da graça, para acolher a presença da Santíssima Trindade em si. E essa é uma vocação para todos nós.

Isso significa que o Ressuscitado deve ser visto e sentido também com o coração, de modo que Deus possa habitar em nós. O Senhor não se mostra como uma coisa. Ele quer entrar na nossa vida e, por isso, a sua manifestação exige o coração aberto. Só assim vemos o Ressuscitado. [3]
A cada um é dado fazer uma escolha de vida. O Senhor bate à porta de nosso coração, querendo entrar em nossa vida (Ap 3, 20). Seu amor é incondicional. Infelizmente, ainda hoje em dia, muitos rejeitam-no. Há um caminho que leva à vida; e outro, que leva à morte. É preciso decidir-se.
A resposta a Judas Tadeu é agora plena. Há um mundo de amor, através do qual chega a salvação, e um mundo pecador, que se perderá. O que acontece é que muitos - os mundanos - preferem o mundo a Deus, pois o pecado apoderou-se de suas almas. [4]
Até aqui vimos que São Judas Tadeu escutou do Senhor uma revelação elevada, dita em momento solene. Nela, vislumbramos a profundidade do amor de Deus, que busca os nossos corações.
Certamente foi um acontecimento muito impactante em sua vida! Veremos agora a repercussão desse momento na carta que São Judas Tadeu escreveu. É o penúltimo livro do Novo Testamento, na sua ordem canônica.
Fidelidade ao Evangelho
Agora podemos começar a entender o tema principal da Carta de São Judas. Por meio dela, o Apóstolo exorta os fiéis a manterem-se firmes na fé, rejeitando assim falsos caminhos! Trata-se de um ensinamento importante. Com a fé, não se brinca. Ela deve ser preservada e transmitida com fidelidade.
Senti necessidade de mandar-vos uma exortação a fim de lutardes pela fé, que foi transmitida aos santos, uma vez para sempre. (Jd 3)
Mas por que será que ele precisou fazer uma exortação assim? É que alguns homens perversos haviam-se infiltrado naquela comunidade. Eram pessoas bastante arrogantes e manipuladoras. Não temos muitas informações sobre o que falavam, mas sabemos que eram coisas graves.
São murmuradores descontentes, que andam ao sabor de suas paixões. A sua boca fala com arrogância e, por interesse, adulam os outros. (Jd 16)
Esses homens malvados se faziam passar por mestres! Eram tão habilidosos que alguns fiéis devem ter-lhes dado ouvidos, caso contrário não seria necessário que São Judas Tadeu escrevesse para aquela comunidade.
Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos diziam: “Nos últimos tempos aparecerão zombadores, andando ao sabor de suas ímpias paixões”. (Jd 17-18)
Por mais curta que seja a carta de São Judas Tadeu, com apenas vinte e quatro versículos, ela é muito bem elaborada. O seu estilo já não é tão comum hoje em dia, mas a verdade transmitida permanece sempre válida.
Identidade católica
No dia a dia, nós convivemos com muitas pessoas que professam outros credos. É comum, por exemplo, que até mesmo na própria família haja pessoas que frequentem instituições religiosas diferentes entre si.
A Igreja nos ensina a respeitar e amar o próximo, seja católico ou não. Não é lícito fazer acepção de pessoas (Tg 2, 9). Por isso, abrimo-nos ao diálogo e ao encontro respeitoso com todos. Basta que tenham boa vontade. Assim podemos lhes apresentar a verdade do Evangelho e com a força de nosso testemunho e da oração, levá-los à conversão.
Mas esse respeito não pode significar uma renúncia à nossa identidade. Dialogar com o próximo não significa negar a própria fé. Nós entramos em diálogo a partir de uma consciência clara de quem somos.
Esse caminho de diálogo, tão necessário, não deve deixar esquecer o dever de reconsiderar e de evidenciar sempre com igual força as linhas-mestras e irrenunciáveis da nossa identidade cristã. [5]
Ao confirmar a fé dos fiéis, São Judas Tadeu nos recorda que a fé não é algo que nós produzimos ou criamos. Você já percebeu que ela é sempre recebida? Nós a recebemos da Igreja, por meio de pessoas concretas, e temos a responsabilidade de transmiti-la sem alterá-la.
Ninguém pode crer sozinho, assim como ninguém pode viver sozinho. Ninguém deu a fé a si mesmo, assim como ninguém deu a vida a si mesmo. [6]
A Carta de São Judas Tadeu pede que os fiéis se esforcem para viver em conformidade com tudo que crêem. A fé deve ser o fundamento sobre o qual construímos a nossa vida, sempre em oração e com confiança.
Vós, porém, amados, edificai-vos sobre o fundamento da vossa santíssima fé e orai, no Espírito Santo, de modo que vos mantenhamos no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna. (Jd 20-21)
Será que nós somos fiéis à fé que professamos? Essa é uma pergunta que a Carta de São Judas instiga em nossos corações.
Vivendo a Fé
São Judas Tadeu nos exorta a edificar a nossa vida na santíssima fé (Jd 20). Toda a nossa vida deve estar enraizada no que cremos, sem ficar nada de fora. Como será que estamos vivendo a nossa fé no dia a dia? Será que lutamos para conhecer a fé? Estudamos a Palavra de Deus? Somos Igreja sempre? Essas são algumas reflexões que convêm fazer hoje.
Que São Judas Tadeu interceda por todos nós!
Referências
[1] Jorge López Teulón. São Judas Tadeu: o Apóstolo da Misericórdia de Cristo. São Paulo: Paulinas, 2013. p. 174.
[2] Santo Anselmo, Proslogion , proem: PL 153, 225, A.
[3] Papa Bento XVI. Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo: nas Origens da Igreja. São Paulo: Paulus, 2011. p. 117.
[4] Jorge López Teulón. São Judas Tadeu: o Apóstolo da Misericórdia de Cristo. São Paulo: Paulinas, 2013. p. 124.
[5] Papa Bento XVI. Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Cristo: nas Origens da Igreja. São Paulo: Paulus, 2011. p. 118.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 166.






