Um dos documentos da Igreja proclama solenemente uma verdade que todos nós vivemos na carne. Fomos incorporados à Igreja pelo Batismo. Por isso, quando recebemos a Eucaristia validamente, nós podemos nos oferecer e oferecer o Senhor Jesus ao Pai.
Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela. [1]
Será que você já meditou sobre essa verdade? A Eucaristia é a fonte e o centro da nossa vida cristã. Nela, a nossa vida faz sentido. A Eucaristia é o resumo de tudo aquilo que a Igreja crê e ensina.
Nossa maneira de pensar concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma nossa maneira de pensar. [2]
Desse modo, a solenidade de Corpus Christi assume grande importância no ano litúrgico. Nela, nós celebramos a presença real de Cristo no meio de nós. Neste artigo, vamos descobrir a origem de Corpus Christi. Você vai aprender que uma santa e um milagre eucarístico foram fundamentais para a instituição desta solenidade. Depois, veremos como a Santíssima Trindade ilumina a fé na Eucaristia. Em seguida, meditaremos sobre a importância da Eucaristia na vida da Igreja. Faremos ainda algumas considerações ao fim.
Um Pedido do Alto
O Corpus Christi é uma solenidade litúrgica que remonta às experiências místicas de Santa Juliana de Cornillon. Ela foi uma religiosa agostiniana que dedicou a vida inteira ao culto eucarístico.
Já em sua juventude teve uma visão que se repetiu em adorações eucarísticas. Ela viu a lua, muito bela, mas havia uma linha opaca (escura) que a atravessava diagonalmente. Depois, obteve do Senhor a graça de discernir o sentido da visão:
A lua simbolizava a vida da Igreja na terra, a linha opaca representava, ao contrário, a ausência de uma festa litúrgica, para cuja instituição se pedia a Juliana que trabalhasse de maneira eficaz: ou seja, uma festa em que os fiéis pudessem adorar a Eucaristia para aumentar a fé, prosperar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento. [3]
Veja como a adoração eucarística é fundamental para a nossa fé. O próprio Senhor Jesus moveu o coração de uma santa, para que uma festa litúrgica dedicada à Eucaristia fosse instituída!
Mas não foi um percurso rápido. Santa Juliana aguardou vinte anos, discernindo em oração se a visão vinha de Deus. Em seguida, passou a ter companhias espirituais. O bispo local acabou aprovando a festa litúrgica e, depois, pouco a pouco, ela foi ganhando reconhecimento até que o Papa Urbano IV a estendesse para toda a Igreja em 1284.

Fazia apenas um ano que um milagre eucarístico havia acontecido em Bolsena. Você já ouviu falar dele? Enquanto celebrava a santa missa em Bolsena, um padre foi tomado de dúvidas sobre a presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. O Senhor confirmou-lhe a fé da Igreja com este milagre:
Enquanto consagrava o pão e o vinho, um sacerdote foi arrebatado por fortes dúvidas sobre a presença real do Corpo e do Sangue de Cristo no Sacramento da Eucaristia. Milagrosamente, algumas gotas de sangue começaram a brotar da Hóstia consagrada, confirmando desta maneira o que a nossa fé professa. [4]
Não era uma coincidência. O milagre de Bolsena foi muito importante para a instituição de uma solenidade voltada para a Eucaristia. O próprio Papa Urbano IV celebrou a Solenidade de Corpus Christi em Orvieto, onde se guardam as relíquias do milagre eucarístico de Bolsena desde aquela época até hoje.
O próprio Pontífice quis dar o exemplo, celebrando a solenidade do Corpus Christi em Orvieto, cidade onde então residia. Precisamente por uma sua ordem, na Catedral dessa Cidade conservava-se — e ainda hoje se conserva — o célebre corporal com os vestígios do milagre eucarístico ocorrido no ano precedente, 1263, em Bolsena. [5]
Vimos até aqui que o Corpus Christi é uma tradição que veio do Céu. É celebrada na primeira quinta-feira depois da oitava de Pentecostes, logo após o Domingo da Santíssima Trindade. Há uma sabedoria na proximidade dessas solenidades.
Trindade e Eucaristia
A Santíssima Trindade é o mistério do próprio Deus. Trata-se do ensinamento fundamental do credo cristão. Essa afirmação não é um exagero; a partir desse dogma, podemos compreender todos os demais.
O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, é a luz que os ilumina. [6]
Mas de que modo a fé na Santíssima Trindade pode iluminar a nossa fé na Eucaristia? É que Jesus não quis nos deixar uma coisa qualquer na Última Ceia, como um canto novo; Ele quis entregar-Se a Si mesmo à Igreja!
Na Eucaristia, Jesus não dá « alguma coisa », mas dá-Se a Si mesmo; entrega o seu corpo e derrama o seu sangue. Deste modo dá a totalidade da sua própria vida, manifestando a fonte originária deste amor: Ele é o Filho eterno que o Pai entregou por nós. [7]
Jesus é o Pão vivo descido dos Céus (Jo 6, 51). Ele, que é Deus, com o Pai, na unidade do Espírito Santo, se faz alimento para a Sua Igreja. Na Eucaristia, nós recebemos a Vida do Cristo e, assim, acessamos o que não poderíamos nos dar com as nossas próprias forças.
Na Eucaristia, revela-se o desígnio de amor que guia toda a história da salvação (Ef 1, 9-10; 3, 8-11). Nela, o Deus-Trindade (Deus Trinitas), que em Si mesmo é amor (1 Jo 4, 7-8), envolve-Se plenamente com a nossa condição humana. [8]
Já vimos que a instituição da Solenidade de Corpus Christi partiu de uma iniciativa divina. O nosso amor é uma resposta ao Deus de Amor, a Trindade, que nos amou primeiro (1Jo 4, 19). Agora veremos o lugar da Igreja nesse mistério.
A Igreja e a Eucaristia
A nossa fé é sempre uma decisão individual, intransferível. Porém, ela não nos conduz ao individualismo. Só podemos viver e crescer na fé católica se estivermos em comunhão com a Igreja. Nela, a Eucaristia ocupa um lugar de destaque.
A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja. [9]
Essa verdade espiritual expressa concretamente uma das promessas do Senhor. Ele garantiu que não abandonaria a Sua Igreja. Desse modo, em todos os momentos, está conosco e está de modo bem concreto.
Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos. (Mt 28, 20)
É uma presença efetiva. O Senhor deixou sete sacramentos. O Batismo é aquele que nos incorpora à Igreja. São muitos os seus efeitos, mas enfatizamos aqui apenas o da incorporação ao Corpo de Cristo (1Cor 12, 13).
Uma vez incorporados à Igreja, nós devemos cumprir outras exigências para comungar bem. É preciso, por exemplo, estar em estado de graça. Quem comunga em pecado mortal, com consciência do que faz, compromete a própria salvação.
Quem come e bebe sem distinguir devidamente o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. (1Cor 11, 29)
Não devemos ter medo de comungar; devemos ter responsabilidade, para comungarmos validamente. Quem comunga bem alimenta-se da Vida de Deus em seu coração! A Eucaristia age enraizando a incorporação do batizado à Igreja, fazendo-a mais fecunda. Convém observar se a nossa comunhão está produzindo frutos.
Os que recebem a Eucaristia estão unidos mais intimamente a Cristo. Por isso mesmo, Cristo os une a todos os fiéis em um só corpo, a Igreja. A comunhão renova, fortalece, aprofunda esta incorporação à Igreja, realizada já pelo Batismo. [10]
A comunhão mística que une a todos os fiéis não é uma teoria nem abstração. Ela é bem concreta. Na solenidade de Corpus Christi, a Igreja nos proporciona a ocasião de expressarmos concretamente o que vivemos no coração.
Ao sair em procissão com o Senhor Eucarístico pelas ruas da nossa cidade, nós trazemos o Céu para bem perto da nossa vida quotidiana. Por onde passa Jesus, passa todo o Paraíso. Essa alegria é parte da nossa missão.
Mas tenhamos a consciência de que, em toda missa, depois de comungar bem, levamos Jesus no coração pelas ruas da cidade, como fazemos na procissão da Solenidade de Corpus Christi. Devemos, assim, comunicar o Senhor aos que têm fome e sede de Eternidade.
Que Nossa Senhora, Mãe da Eucaristia, interceda por nós!
Leia mais:
Corpus Christi: além dos Tapetes
Referências:
[1] Lumen Gentium, 11.
[2] Santo Irineu de Lião. Ad. Haer. 4, 18, 5.
[3] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 17 de novembro de 2010.
[4] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 17 de novembro de 2010.
[5] Ibid.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 234.
[7] Papa Bento XVI Sacramentum Caritatis, 7.
[8] Ibid, 8.
[9] Papa João Paulo II. Ecclesia de Eucharistia, 1.
[10] Catecismo da Igreja Católica, 1396.