Doutrina
Santos

07 ensinamentos dos Santos a respeito do Purgatório

Grande é o sofrimento das Almas do Purgatório e grande deve ser o esforço dos fiéis por aliviar os seus sofrimentos.

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O Purgatório, lugar de purificação das almas antes de alcançarem a plena comunhão com Deus no Céu, é um mistério que nos convida a contemplar a justiça e a misericórdia divinas. Ao longo dos séculos, inúmeros santos refletiram e receberam visões sobre essa realidade espiritual, oferecendo-nos um vislumbre desse fogo purificador do amor de Deus.

Neste texto, reunimos 07 ensinamentos partilhados pelos santos que lançam luz sobre o estado das almas que se encontram no Purgatório e sobre a importância de nossas orações por elas.

Que essas lições nos movam a buscar nossa própria santificação e a ajudar nossos irmãos e irmãs, que assim como nós fazem parte do Corpo Místico de Cristo — a Igreja —, a alcançar logo a glória eterna junto de Deus. [1]

01 – As Penas do Purgatório — Santo Tomás de Aquino

Os sofrimentos no Purgatório são tremendos! Santo Tomás de Aquino compara as penas do Purgatório com as do inferno, enfatizando que, no Purgatório, o sofrimento das almas é temporário e orientado para a purificação, ao passo que o do inferno é eterno e sem esperança de redenção.

Em plena consonância com o pensamento de Santo Tomás, Dante Alighieri, no clássico da literatura A Divina Comédia, inscreve na porta do Inferno a célebre frase: “Abandonai toda a esperança, vós que entrais”. [2]

Essa inscrição é um aviso aos que entram no Inferno, indicando que, uma vez ali, não há possibilidade de retorno ou de esperança de salvação— um conceito central na doutrina da Igreja sobre a condenação eterna.

No entanto, no Purgatório, os sofrimentos têm um caráter temporário e uma finalidade redentora. Santo Tomás de Aquino esclarece a respeito das penas:

Existem duas espécies de pena no purgatório: a do dano, que retarda a visão de Deus; e a do sentido, que pune pelo fogo material (...) as penas do purgatório — a do dano e a dos sentidos — excedem todas as desta vida. [3]
  • Penas de dano: Santo Tomás explica que a pena principal no Purgatório é a separação temporária de Deus, o que causa um sofrimento terrível e constante nas almas. Como elas estão salvas e, portanto, destinadas à união com Deus, a privação da comunhão plena com Deus lhes causa grande dor espiritual; é um desejo ardente que não pode ser satisfeito até que essas almas sejam purificadas completamente.
  • Penas de sentido: Santo Tomás também considera a possibilidade de penas de sentido, ou seja, sofrimentos semelhantes aos que se experimenta no corpo, como o “fogo purificador”. Embora este fogo não seja necessariamente material, ele age como um meio de purificação para a alma, retirando dela os resquícios dos pecados veniais e apegos não plenamente expiados em vida.

É importante salientar, que Santo Tomás reafirma que, apesar do sofrimento, as almas no Purgatório estão em paz por saberem que estão destinadas à comunhão com Deus.

02 – A Duração do Purgatório — São Roberto Belarmino

Alguns santos e teólogos refletem que o tempo no Purgatório não pode ser medido de forma linear, como o tempo terreno, pois é uma experiência espiritual que transcende nossas categorias humanas de tempo e espaço.

Eles enfatizam que esse período é proporcional ao estado de cada alma, variando conforme a necessidade de purificação de seus pecados e a intensidade de seu amor a Deus.

É verdade que, nas revelações privadas, o tempo de uma alma no Purgatório é frequentemente descrito como extenso — durando anos, séculos, ou até o fim do mundo. Essa informação, por permissão divina, serve para enfatizar a gravidade do processo de purificação e a seriedade das consequências do pecado.

Essa extensão do “tempo” no Purgatório reflete a natureza intensamente dolorosa da purificação. Embora esse tempo não seja necessariamente cronológico como o nosso, o sofrimento faz com que a percepção do tempo seja mais profunda e íntima para cada alma.

Por analogia, podemos perceber que algo semelhante acontece conosco: quando estamos passando por uma intensa dor física, sentimos que cada segundo se prolonga como uma eternidade, não é verdade?

São Roberto Belarmino nos adverte sobre a seriedade do Purgatório nessa relação com sua durabilidade:

Não há dúvida que as penas do Purgatório não se limitam nem a dez ou nem a vinte anos e que, às vezes, duram séculos inteiros. Mas, ainda que seja verdade que sua duração não ultrapasse dez ou vinte anos, contaríamos por nada suportar durante dez ou vinte anos penas muito dolorosas, penas inconcebíveis, sem qualquer alívio? Se a um homem fosse assegurado que durante vinte anos ele sofreria alguma dor violenta nos pés, ou na cabeça, ou nos dentes, sem jamais poder dormir ou gozar de um mínimo repouso, ele não preferiria morrer cem vezes do que viver dessa maneira? E se lhe fosse dada a escolha, entre uma vida assim tão infeliz ou a perda de todos os seus bens, hesitaria em sacrificar sua fortuna para se livrar desse tormento? E então? Para nos livrar das chamas do Purgatório, criaremos dificuldade para abraçar os trabalhos de penitência? Temeremos pôr em prática os mais penosos exercícios: as vigílias, os jejuns, as esmolas, as longas orações e, sobretudo, a contrição acompanhada de gemidos e de lágrimas? [4]

03 – As Consolações do Purgatório — Santa Faustina Kowalska

Vejamos esta experiência mística de Santa Faustina com uma freira falecida que, em uma primeira aparição, surgiu em chamas de purificação. Na segunda aparição, embora ainda estivesse no Purgatório, sua condição já se apresentava diferente:

(...) eu [Faustina] não cessava de rezar. Depois de algum tempo, [a Irmã falecida] veio visitar-me novamente à noite, mas num estado diferente. Já não estava em chamas, como antes, e o seu rosto estava radiante, os olhos brilhavam de alegria e me disse que tenho o verdadeiro amor para com o próximo, que muitas outras almas tiraram proveito das minhas orações e me encorajou a não deixar [de rezar] pelas almas que sofrem no purgatório e me disse que ela já não ficaria por muito tempo no purgatório. Os desígnios de Deus são verdadeiramente admiráveis!

De fato, as almas do Purgatório sentem-se profundamente consoladas pelas orações e sacrifícios que oferecemos por elas. Esses atos de intercessão são como um bálsamo para suas dores, aliviando o peso da purificação.

Os santos e místicos que tiveram visões do Purgatório descrevem que as almas experimentam um alívio real e tangível, como um “respiro” em meio ao fogo purificador, quando recebem o apoio das orações dos vivos.

Essa consolação não elimina totalmente seu sofrimento, mas torna-o mais suportável, infundindo-lhes paz e alegria pela certeza de que estão sendo ajudadas e que, com a nossa colaboração, seu tempo de purificação será abreviado. Essa assistência espiritual também as faz sentir-se amadas e lembradas, renovando nelas o desejo de união com Deus.

04 – O Sacrifício da Missa — Papa Leão XIII, Santo Agostinho e Santa Mônica

Como tratamos no artigo “As almas do purgatório precisam de nós”, o oferecimento da Santa Missa pela alma de um falecido é a mais alta oração e o maior ato de caridade que podemos fazer por ela.

Confirmando tal doutrina, disse o Papa Leão XIII:

Por isso, conforme ensina a doutrina católica, as almas retidas no Purgatório são aliviadas pelos sufrágios dos fiéis e, principalmente, pelo augusto Sacrifício do altar. Assim, acreditamos que não há prova maior e mais desejável de nosso amor por essas almas do que multiplicar, em todos os lugares, a oferta do santíssimo sacrifício de nosso divino Mediador [a Missa], em expiação de suas penas. [5]

Santo Agostinho, um dos doutores da Igreja, também ensina essa verdade:

Não há dúvida de que as orações da Igreja, o Sacrifício salutar [a Santa Missa], as esmolas distribuídas aos defuntos aliviam as almas e fazem com que Deus tenha para com elas mais clemência do que merecem por seus pecados. É a prática universal da Igreja, prática que ela observa por ter sido recebida de seus Pais, isto é, dos santos Apóstolos. [6]

Além disso, vimos essa mesma fé no exemplo de sua mãe, Santa Mônica, para ler sobre sua vida, clique aqui. beira da morte, ela fez apenas um pedido a Agostinho: que ele oferecesse a Santa Missa em sufrágio por sua alma.

Enterrai este corpo em qualquer lugar, e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor, seja qual for o lugar em que estiverdes — ut ad altare Domini memineritis mei. [7]

05 – Oração pelos pais falecidos — São João Maria Vianney

A importância de rezarmos pelos nossos pais falecidos é um ato de amor e gratidão que ultrapassa o amor natural. Eles, ao colaborarem com Deus, nos deram o dom da existência, cuidaram de nós e ajudaram a nos formar. Agora, temos a oportunidade de retribuir-lhes esse amor, intercedendo por suas almas.

Se, pela misericórdia de Deus, eles estão no Purgatório, nossas orações, as Santas Missas e as penitências podem ser instrumentos valiosos para aliviar seus sofrimentos e levá-los mais rapidamente à vida eterna.

São João Maria Vianney, um dos maiores santos da história, refletiu a esse respeito em um de seus sermões sobre o Purgatório:

Oh! Se Deus permitisse que uma daquelas pobres almas [do Purgatório] que está mergulhada nas chamas, aparecesse agora neste lugar, toda envolvida pelas chamas que a consome e desse ela mesma um recital dos sofrimentos que ela está suportando! Toda essa Igreja, meus caros irmãos, seria sacudida pelo eco de seus gritos e soluços e talvez quem sabe isso amoleceria os seus corações? Esta pobre alma nos diria: “Como nós sofremos! Ó irmãos, livrai-nos desses tormentos! Ah, se vocês pudessem experimentar o que é viver separado de Deus! Cruel separação! Queimar no fogo aceso pela justiça de Deus! Sofrer dores incompreensíveis para a mente humana! Ser devorado pelo remorso, sabendo que poderíamos facilmente ter evitado esses tormentos! Oh! Meus filhos! — gritam os pais e as mães — como podem vocês nos abandonar nessas horas, nós que tanto os amamos quando estávamos sobre essa terra! Como vocês podem ir dormir tranquilamente em suas camas, enquanto nós queimamos em uma cama de fogo? Como vocês tem coragem de se entregar aos prazeres e alegrias, enquanto nós sofremos e choramos dia e noite? Vocês herdaram nossos bens, nossas propriedades, vocês se divertem com o fruto de nossos trabalhos, enquanto nós sofremos males tão indescritíveis e por tantos anos! E não são capazes de oferecer uma pequena oração em nossa intenção, nem uma simples Missa que tanto ajudaria para nos livrar dessas chamas! Vocês podem aliviar nosso sofrimento, vocês podem abrir nossas prisões e vocês simplesmente nos abandonam. Oh! Quão cruel são estes sofrimentos!” [8]

Nossos pais falecidos podem agora estar clamando por nosso auxílio. Somos chamados, mesmo após sua partida, a cumprir o quarto mandamento, honrando-os pelo vínculo de vida e amor sobrenatural que nos une. Cumpramos, irmãos, nosso dever filial de ajudá-los a alcançar a plena comunhão com o Senhor.

06 - A Virgem Maria no Purgatório — Santa Brígida

Vejam que importante revelação Nossa Senhora transmitiu a Santa Brígida:

Eu sou a Mãe de todos aqueles que estão no lugar de expiação, minhas orações suavizam os castigos infligidos a eles por suas faltas. [9]

Que grande Mãe temos! Maria é incansável em sua missão como Mãe da nova humanidade, ou seja, dos santos. Ela é a nova Eva, aquela mãe que nos conduz sempre à Santíssima Trindade. Não por acaso é chamada de “Consoladora dos Aflitos” e “Mãe de Misericórdia.” A Imaculada, revestida da glória de Deus, derrama consolo e doçura sobre as almas.

Por isso, devemos cultivar, também nesta sua obra de amor materno no Purgatório, uma especial devoção à Nossa Senhora, unindo-nos a ela e colaborando nesta missão de aliviar os sofrimentos de nossos irmãos que lá se encontram.

07 – Meios de Evitar o Purgatório — Papa Bento XVI e São João da Cruz

Segundo a teologia vivida pelos santos, há diversos meios que podem nos ajudar a purificar a alma ainda nesta vida, ou, ao menos, após a morte, diminuir nosso tempo no Purgatório.

Esses meios são como oportunidades oferecidas pela graça divina para que nos aproximemos de Deus em santidade, aliviando as penas devidas pelos pecados cometidos. Cada uma dessas práticas e devoções nos aproxima da santidade requerida por Deus, preparando-nos no tempo presente para a plena comunhão com Ele:

Especial devoção à Santíssima Virgem: Como vimos, Maria intercede por nós, derrama as graças necessárias para nosso arrependimento e santificação e nos conduz mais rapidamente à união com Deus.

Uso do escapulário do Monte Carmelo: Na mesma linha da devoção mariana, recebemos de Nossa Senhora do Carmo a promessa de proteção e auxílio após a morte. A Virgem afirmou que — aos sábados, dia particularmente dedicado a ela na liturgia — libertará do Purgatório as almas dos que morreram revestidos do escapulário, desde que tenham vivido em fidelidade à fé e seus compromissos cristãos. É o que ficou conhecido como “Privilégio Sabatino”.

Prática caridade e misericórdia: Nossa caridade para com o próximo pode nos alcançar méritos e atrair a misericórdia divina sobre nossas almas, perdoando-nos as penas de nossos pecados e purificando-nos de todo amor próprio.

Mortificação: Sacrifícios voluntários, feitos por amor a Deus e em reparação pelos pecados cometidos, favorecem nosso caminho de santidade.

Recebimento frequente dos sacramentos (especialmente a Unção dos Enfermos): Cada sacramento nos concede a vida divina (eterna) e fortalece nossa alma, preparando-nos para o encontro pleno com Deus. Em especial, o sacramento da Unção dos Enfermos, que, independentemente de trazer cura física, nos configura a Cristo sofredor, infundindo-nos a força divina, o Espírito santificador, para completar em nossa carne o que faltou aos padecimentos de Cristo.

Confiança em Deus: A entrega de si e de toda a vida à vontade e providência de Deus, confiando em Seu juízo e abandonando-se à Sua infinita misericórdia, já purifica nosso coração. Vejamos que linda carta escreveu o Papa Bento XVI, bastante enfermo:

Em breve me encontrarei perante o último Juiz da minha vida. Embora ao olhar retrospectivamente a minha longa vida possa ter tantos motivos de susto e medo, todavia estou com o coração feliz porque confio firmemente que o Senhor não é só justo juiz, mas simultaneamente é o amigo e o irmão que já padeceu, Ele mesmo, as minhas deficiências e, consequentemente, ao mesmo tempo é juiz e meu advogado (Paráclito). Na perspectiva da hora do juízo, como se me torna clara a graça de ser cristão! O ser cristão dá-me o conhecimento, mais ainda, a amizade com o juiz da minha vida e permite-me atravessar com confiança a porta escura da morte. A propósito, retorna-me sem cessar à mente o que João conta no início do Apocalipse: vê o Filho do Homem em toda a sua grandeza e cai aos seus pés como morto. Mas Ele, pousando a mão direita sobre João, diz-lhe: “Não tenhas medo! Sou eu...” (cf. Ap 1, 12-17). [10]

Santa aceitação da morte: Aceitar a morte como um encontro com Deus favorece a entrada na glória. Vejamos o que o grande São João da Cruz nos diz a esse respeito:

(...) na lei da graça, em que morrendo o corpo pode a alma ver a Deus, é mais sensato desejar viver pouco, e morrer para O contemplar. Mesmo se assim não for, a alma que ama a Deus — como esta aqui — não tem medo de morrer à Sua vista; porque o verdadeiro amor recebe com igual conformidade tudo quanto lhe vem da parte do Amado, seja coisas prósperas ou adversas e até castigos, só pelo fato de serem queridas por Ele, e nelas acha gozo e deleite. Segundo a palavra de São João “a perfeita caridade expele todo temor” (Jo 4, 18). À alma que ama, não pode ser amarga a morte, pois nela acha todas as doçuras e deleites do amor. [11]

Busquemos o Céu na presente vida

Caríssimos, quanto mais amamos a Deus (e aos nossos irmãos em Deus), mais nos configuramos a Cristo e permitimos que o Espírito Santo purifique hoje nossos pecados veniais, imperfeições e apegos.

Desejemos o Céu, e não apenas evitando o pecado mortal, mas aspirando à santidade, tornando-nos homens e mulheres semelhantes ao Senhor.

Nunca nos esqueçamos: o Céu já está presente em nossa alma desde o batismo; basta que sejamos generosos em cooperar com a graça divina para que essa santidade floresça plenamente em nós.

Que Nossa Senhora, Mãe de Misericórdia, auxilie nossos irmãos no Purgatório e a nós também, homens pobres, guiando-nos em santidade para o encontro com o justo e misericordioso Juiz.

Referências

[1] As descrições apresentadas neste texto, além de conterem reflexões e opiniões teológicas, incluem também “revelações privadas”. As revelações privadas são experiências místicas ou visões que alguns santos e pessoas de fé afirmam ter recebido, trazendo doutrinas espirituais ou orientações específicas. Embora muitas dessas revelações sejam razoáveis e estejam em consonância com a doutrina da Igreja, elas não são obrigatórias para a fé católica, pois não fazem parte de nenhum documento oficial assinado pelo Magistério da Igreja. Cabe, portanto, a cada fiel discernir e escolher acreditar ou não nessas revelações, sempre orientando-se pela prudência e pela fidelidade aos ensinamentos da Igreja.

[2] Canto III, do Inferno.

[3] Suma Teológica (Suplemento). Apêndice. Questão 2. Artigo 3.

[4] De gemitu, l. II. c. 9.

[5]  Encíclica Quod Anniversarius. 1º de Abril de 1888. Nº 7.

[6] SermonesDe verbis apostoli, 34.

[7] Confissões. Livro IX.

[8] São João Maria Vianney - Sermão Eu Venho em Nome de Deus - Sobre o Purgatório

[9] Revelações. Livro 4, cap. 1.

[10] Cartas do Papa Bento XVI.

[11] Chama Viva de Amor. Canção XI.