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A Bíblia proíbe as imagens dos Santos?

A Bíblia não proíbe imagens, mas sim a idolatria! São coisas bem diferentes.

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Existem pessoas que desconhecem a unidade das Sagradas Escrituras. Elas colecionam versículos soltos, fora de contexto, para justificar suas próprias ideias. Agindo assim, conduzem muitas pessoas ao erro e comprometem a salvação das almas.

O objetivo deste texto não é julgar ninguém. Não nos cabe o julgamento; Deus é quem sonda os corações. O que nos cabe, então? Conhecer a nossa fé e perseverar nela. Por meio do conhecimento, você vai poder ainda ajudar um irmão de caminhada:  

Aos que estão com dúvidas, tratai com misericórdia. (Jd 22)

Primeiro, vamos tratar das imagens na Bíblia. Depois, veremos o que é a idolatria. Em seguida, os três tipos de cultos que existem. Finalmente, concluiremos com uma meditação sobre a implicação que a Encarnação do Verbo tem para o tema das imagens.

Aprender sobre a Sagrada Escritura é essencial para não cair em erros como o que vamos te apresentar aqui. Se você quer aprender a interpretar a Bíblia corretamente, clique aqui e faça a sua matrícula na Escola Bíblica.

As Imagens e a Bíblia

A Bíblia não proíbe a confecção de imagens. Existem, sim, versículos que parecem dar a impressão de que essa proibição existiu, como estes dois do Antigo Testamento:

Não farás para ti qualquer ídolo ou figura do que existe em cima nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. (Ex 20, 4)
Não vos entregueis à corrupção, fazendo qualquer estátua de alguma figura, qualquer ídolo com forma masculina ou feminina, forma de animal, vivendo sobre a terra ou forma de ave voando no céu. (Dt 4, 16-17)

Mas é uma impressão equivocada. Afinal, Deus não é contraditório. Se fosse pecado produzir imagens devocionais, por que Ele pediria que duas estátuas de querubins de ouro fossem esculpidas e colocadas no centro litúrgico da vida de Israel?

Farás dois querubins de ouro; em obra lavrada os farás, nas duas extremidades do propiciatório. (Ex 25, 18)

E mais. O Templo de Salomão era adornado com imagens que ele mandou esculpir, de querubins, palmas e flores.  Este templo foi construído conforme as instruções e normas:

Salomão revestiu os querubins de ouro. Mandou também esculpir, em todas as paredes ao redor do templo, entalhes de querubins, palmeiras e flores abertas. (1Rs 6, 28-29)
No décimo primeiro ano, no mês de Bul, o oitavo mês, o templo estava concluído conforme todas as instruções e normas (1Rs 6, 38)

Não devemos nos esquecer que Jesus frequentava este templo e nele ensinava (Lc 19, 47a). Será que, se imagens esculpidas fossem proibidas, o Senhor do Templo não falaria nada?  Jesus nunca condenou a produção de imagens.

A Bíblia não proíbe imagens, mas proíbe algo. O que será? Vimos acima que não pode ser a mera produção de imagens, já que o próprio Deus determinou que algumas delas fossem confeccionadas. E tem que ser algo muito grave, pois Deus proibiu!

A Bíblia não proíbe imagens, mas sim a idolatria! São coisas bem diferentes. É o que veremos agora.

O que é Idolatria?

Na época do Antigo Testamento, os povos pagãos cultuavam muitos deuses. A idolatria consistia em uma forma de adesão a estes deuses (politeísmo). Os ídolos eram representações de divindades pagãs, que recebiam a honra devida somente a Deus:  

O primeiro mandamento condena o politeísmo. Exige que o homem não acredite em outros deuses afora Deus, que não venere divindades afora a única. [1]

A idolatria não é um problema simples, como pode parecer à primeira vista. Não basta rejeitar os deuses pagãos para vivermos livre desse pecado. Se fosse assim, São Paulo não precisaria advertir os cristãos de Colosso do risco de caírem em idolatria. Eles não acreditavam nos deuses da Grécia ou do Império Romano.

Mortificai os vossos membros, isto é, o que pertence à terra: imoralidade sexual, impureza, paixão, maus desejos, especialmente a ganância, que é uma idolatria. (Cl 3, 15)

A ganância é uma idolatria! Essa advertência é preciosa. São Paulo nos ensina que a idolatria é um problema espiritual complexo. Quem acha que se livra dela quebrando estátuas, ainda não entendeu nada.

A idolatria não diz respeito somente aos falsos cultos do paganismo. Ela é uma tentação constante da fé. Consiste em divinizar o que não é Deus. Existe idolatria quando o homem presta honra e veneração a uma criatura no lugar de Deus. [2] 

Mas por que a ganância é uma idolatria?  Santo Tomás de Aquino nos explica que o dinheiro ocupa na vida do ganancioso (ou avarento) o lugar devido a Deus. O dinheiro é o ídolo do avarento:

A ganância é um tipo de idolatria (...). Idolatria é dar a uma imagem a honra devida a Deus, mas o avarento dá ao dinheiro a honra devida a Deus quando edifica em torno dele toda a sua vida. [3]

Chegamos ao momento de fazer uma breve distinção entre imagem e ídolo, que é um tema que já vimos antes em nosso artigo 04 Interpretações fundamentalistas da Bíblia que você deve evitar. Você se lembra?

O ídolo é uma criatura que ocupa o lugar de Deus. É um falso deus. Ele pode ser material ou imaterial. A imagem é bem diferente. Ela aponta para fora de si, para o Céu. É apenas uma evocação (lembrança):

Posso ter uma imagem como mero símbolo de evocação do sagrado sem cometer idolatria alguma, como posso não ter imagem material nenhuma e cometer a idolatria, por me tornar escravo do dinheiro, do prazer e do poder. [4]

Vamos agora compreender o que é o culto que prestamos e quais são seus tipos.

O Culto Devido

A idolatria é uma desordem. Trata-se de uma grave violação ao mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas. Nós devemos entender quais tipos de culto o nosso coração deve prestar. Não se assuste com as palavras novas.  Busque compreender o que elas significam.

A Bíblia não foi escrita em português. Por isso, é preciso conhecer três palavras que vieram do grego antigo para entendermos o culto. São elas a latria, a dulia e a hiperdulia.

Latria provém de “latreia”, que significa adorar.  É o culto de adoração a Deus. Quem se desvia do culto de latria comete idolatria. Somente a Deus devemos adorar.  

Adorarás o Senhor, teu Deus, e só a ele prestarás culto. (Mt 10, 4)

Mas nem todo culto implica uma adoração direta a Deus. No culto de dulia, cultua-se a Deus mediante alguém. Dulia significa “veneração” ou “honra”. O culto de dulia é o que nós prestamos aos santos.    

Da tradução do grego, dulia quer dizer honrar e venerar, e é o culto prestado aos santos, pessoas que tiveram heroísmo e fé comprovados no exercício das virtudes cristãs, consideradas um verdadeiro exemplo a ser seguido.

Nós devemos reconhecer a obra que Deus fez nos corações dos santos. Não se trata de colocá-los no lugar de Deus, mas sim de honrar a obra que Deus fez neles.

Quem receber um justo por ser ele justo, terá uma recompensa de justo. (Mt 10, 41b)

A terceira palavra é a hiperdulia, que significa uma veneração muito mais elevada! É a honra devida apenas a Nossa Senhora. Ao venerá-la, nós reconhecemos o papel singular que Deus quis que Ela tivesse em Seus planos:

Todas as gerações, desde agora, me chamarão bem-aventurada. (Lc 1, 48)

O culto a Maria é uma escola de santidade. Quem entende melhor o Filho que a Mãe? Com Ela, aprendemos os segredos do Coração de Jesus. Em seu ventre, o Verbo de Deus se fez carne.

A finalidade última do culto à bem-aventurada Virgem Maria é glorificar a Deus e levar os cristãos a aplicarem-se numa vida absolutamente conforme a sua vontade. [5]

As Imagens e a Encarnação do Verbo

Chegamos agora ao ponto central deste texto. Imagine uma pessoa que viu Jesus há vinte séculos em Jerusalém. A pessoa olhou para o Senhor passando por uma rua e viu aquele homem de uns trinta anos, com dois braços, duas pernas, cabelos, etc. Será que essa pessoa poderia dizer que viu a Deus? É claro que sim!

Quem me viu, viu o Pai. (Jo 14, 9)

Jesus é Deus de verdade, sem deixar de ser Homem. O Deus que não podia ser representado no tempo do Antigo Testamento passou a ser visto, tocado, encontrado de modo bem concreto.

Ele é a imagem do Deus invisível. (Cl 1, 15a)

Não é uma questão de decorar versículos, mas de entender quem é Jesus. Deus veio ao nosso encontro na carne, em corpo e alma, como nós, sem deixar de ser Deus. Ele era visível a todos. Qual é o sentido de falarmos de restrições às imagens no Cristianismo?

Antigamente Deus, que não tem corpo nem aparência, não podia em absoluto ser representado com uma imagem. Mas agora que se mostrou na carne e viveu com os homens, posso fazer uma imagem daquilo que vi de Deus. [6]

Não tenha receio de venerar as imagens. É à luz de Cristo que nós devemos ler o Antigo Testamento.

Um Novo Olhar

Meus irmãos, tenham confiança na doutrina da Santa Igreja. Ela é estabelecida com muito discernimento, conhecimento e oração. É a doutrina que os Apóstolos nos deixaram, tendo aprendido do Senhor.  

Não se deixem levar por ideias estranhas que, de tempos em tempos, surgem no mundo. A Santa Igreja conhece todas as acusações e já as respondeu. Resta-nos estudar. Ser católico é o maior tesouro que existe neste mundo! Você não vai se arrepender do tempo que dedicar aos estudos de nossa fé.

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Referências:

[1]  Catecismo da Igreja Católica, 2112.

[2] Catecismo da Igreja Católica, 2113.

[3] Santo Tomás de Aquino. Comentário a Colossenses 3, 1.

[4] Padre Almir Flávio Scomparim. A Iconografia na Igreja Católica. Paulus, 2008. p. 21.

[5] Paulo VI. Marialis Cultus, 39.

[6] São João Damasceno. Imag. 1m 16.