Sagradas Escrituras
Tradição

A parte mais importante da Bíblia

Os Quatro Evangelhos são o coração das Sagradas Escrituras

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Já meditamos sobre o processo de composição do Cânon Bíblico, que é a lista dos escritos que compõem o Antigo e o Novo Testamentos. Vimos que a Igreja e a Bíblia são inseparáveis. Hoje veremos um tema complementar: a centralidade dos Quatro Evangelhos.

Os Evangelhos são o coração da Bíblia. No Concílio Vaticano II, a Igreja declarou, solenemente, que eles ocupam um lugar de destaque no conhecimento da vida e doutrina de Nosso Senhor:

Ninguém ignora que entre todas as Escrituras, mesmo do Novo Testamento, os Evangelhos têm o primeiro lugar, enquanto são o principal testemunho da vida e doutrina do Verbo encarnado, nosso salvador. [1]

Nós temos o dever de conhecer os Quatro Evangelhos com profundidade. É a partir deles que poderemos ler e interpretar as Sagradas Escrituras inteiras. Contudo, antes de estudar outros Santos Livros, como os do Antigo Testamento, precisamos mergulhar no que os Evangelhos nos ensinam.

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Jesus e o Antigo Testamento

É pouco conhecido pelos fiéis leigos, mas os Evangelhos nos mostram como Jesus lia o Antigo Testamento. Este é um tesouro que a Igreja guarda com cuidado, e você deve conhecê-lo bem.

Em mais de uma ocasião, o Senhor explicou como pessoas e até objetos do Antigo Testamento recebiam dele o seu sentido espiritual. Apresentamos dois exemplos para ilustrar:

1. O profeta Jonas

Na Profecia de Jonas, que é um dos livros do Antigo Testamento, nós lemos que o profeta passou três dias e três noites dentro de um grande animal marinho:

O Senhor fez surgir um grande peixe para engolir Jonas. Jonas esteve nas entranhas do peixe três dias e três noites. (Jn 2, 1)

O próprio Senhor se referiu a essa passagem da Profecia de Jonas, que havia sido escrita séculos antes. Ele esclareceu que o seu entendimento correto ocorre à luz da Sua Paixão e Ressurreição, que ainda não haviam acontecido:

Uma geração má e adúltera busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser o sinal do profeta Jonas. De fato, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do Homem estará três dias e três noites no seio da terra. (Mt 12, 39-40)

A esse modo de ler a Bíblia, que a Igreja recebeu do Senhor, chamamos de “tipologia”. Podemos chamar também de “prefiguração”. Não se preocupe com essas duas palavras, se elas são novas para você. O importante é entender o significado que podem ser resumidas na seguinte ideia:

Tipo é uma pessoa real, um lugar, uma coisa ou um acontecimento no Antigo Testamento que prefigura algo maior no Novo Testamento. Da palavra “tipo”, obtemos a palavra “tipologia”. [2]

As realidades históricas do Antigo Testamento se realizam no Novo Testamento.  Não são símbolos nem fantasias, mas sim revelações. Eles apontam para algo maior, que não era conhecido no tempo do Antigo Testamento e que conhecemos em Cristo.

Quando São Paulo interpretou a história dos filhos de Abraão como “uma alegoria” (Gl 4, 24), por exemplo, ele não estava insinuando que a história, na realidade, nunca tinha acontecido. Na verdade, ele estava confirmando o episódio como história, mas como história dentro do plano de Deus. [3]

O Catecismo da Igreja Católica explica que este modo de interpretar o Antigo Testamento traz à luz a unidade do plano de Deus. É preciso ler o Antigo Testamento a partir dos mistérios de Cristo:

A Igreja, já nos tempos apostólicos, e depois constantemente em sua Tradição, iluminou a unidade do plano divino nos dois Testamentos graças à tipologia. Esta discerne, nas obras de Deus contidas na Antiga Aliança, prefigurações daquilo que Deus realizou na plenitude dos tempos, na Pessoa de Seu Filho Encarnado. [4]

2. A Serpente de Bronze no Deserto

Talvez um outro exemplo nos ajude a compreender melhor. Você se recorda do Livro do Êxodo? Depois de fugir do Egito, o povo de Israel peregrinou por quarenta anos no deserto. Era o tempo de Moisés, que os conduzia. Em certo momento, porém, eles começaram a reclamar de Deus e de Moisés.

Por que nos fizeste subir do Egito? Para morrermos no deserto? (Ex 20, 5a)

O Senhor puniu a prepotência daquele povo, enviando-lhe serpentes. Eles se arrependeram, e Moisés rogou pelo povo. Foi, então, que o Senhor mandou que uma imagem fosse confeccionada:

O Senhor disse a Moisés: “Faz uma serpente ardente e coloca-a sobre uma haste. Todo o que for mordido, mas olhar para ela, ficará com vida”. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze e a colocou sobre uma haste e, quando alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, ficava curado. (Nm 21, 8-9)

O Senhor se referiu à imagem da serpente de bronze quando conversou com Nicodemos. Por que Deus determinou que se fizesse uma imagem de serpente? Jesus revelou o sentido espiritual dela, que se encontra na Santa Cruz:

Como Moisés elevou a serpente no deserto, assim também é necessário que o Filho do Homem seja elevado, a fim de que todo o que nele crer tenha a vida eterna. (Jo 3, 14-15)

Mais uma vez vemos que certo acontecimento do Antigo Testamento, bem anterior ao nascimento de Cristo, só pode ser compreendido à luz do mistério do próprio Cristo.

Assim como as serpentes eram a causa da morte dos israelitas, também a serpente de bronze tornava-se a causa da sua cura. Do mesmo modo, Jesus assumiu em si a nossa culpa e tornou-se causa de nossa salvação, como bem explicou São Paulo: “Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus” (2 Cor 5, 21).

Os Apóstolos e o Antigo Testamento

Este modo de ler o Antigo Testamento foi recebido pelos Apóstolos. São Pedro, por exemplo, interpretou que o dilúvio da Arca de Noé era tipo ou prefiguração do Santo Batismo. É o que ele escreveu em sua primeira carta:

(...) como nos dias em que Noé construía a arca. Nesta arca, umas poucas pessoas, oito, foram salvas, por meio da água. A água prefigura o batismo, que agora salva a vós. (1Pd 3, 21)

É bonito meditarmos sobre o modo como os mistérios de Cristo estão presentes no Antigo Testamento. Neste caso em particular, assim podemos compreender:

O dilúvio é uma figura do Batismo: as águas revoltas que purificaram a terra de toda a perversidade (Gn 7, 17-24) prefiguram as águas sacramentais que purificam o fiel do pecado (At 2, 38; 22, 16) [5]

Este modo de ler o Antigo Testamento foi, então, transmitido e conservado pela Tradição da Igreja. Santo Agostinho, por exemplo, ensinou que o seu fundamento está na unidade do plano de Deus:

No Antigo Testamento está escondido o Novo, e no Novo se desvela o Antigo. [6]

O Coração da Bíblia

Agora já podemos entender melhor por que os Quatro Evangelhos são o coração das Sagradas Escrituras. Há um único plano divino: o Antigo e o Novo Testamentos nunca entram em contradição. É em Cristo que tudo faz sentido.

Devemos ler o Antigo Testamento, mas não de qualquer jeito. É preciso que os nossos corações estejam em comunhão na Igreja, para alcançarmos o seu verdadeiro sentido espiritual. Assim, fugiremos do risco da interpretação particular, que é condenada por São Pedro:

Deveis saber, antes de tudo, que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular. (2Pd 1, 20)

Mas nós devemos ler também os demais escritos do Novo Testamento. Você se lembra de quais são? Os Atos dos Apóstolos, que conta os primeiros dias da Igreja. As cartas de São Paulo, São Tiago, São Pedro, São Judas e São João, bem como a Carta aos Hebreus. E o livro do Apocalipse.

Todos convergem para Cristo. O Senhor nunca abandona a Sua Igreja. Ele prestou assistência aos Apóstolos, como prometeu (Mt 28, 20) e enviou-lhes o Espírito (Jo 16, 13). Como toda a Bíblia, também estes escritos são inspirados pelo Espírito Santo:

O cânon do Novo Testamento contém igualmente além dos quatro Evangelhos, as Epístolas de São Paulo e outros escritos apostólicos redigidos por inspiração do Espírito Santo, com os quais, segundo o plano da sabedoria divina, é confirmado o que diz respeito a Cristo Senhor, é explicada mais e mais a sua genuína doutrina, é pregada a virtude salvadora da obra divina de Cristo, são narrados os começos da Igreja e a sua admirável difusão, e é anunciada a sua consumação gloriosa. [7]

O Evangelho do Dia

Aprendemos hoje que os Quatro Evangelhos são fundamentais em nossa caminhada. Eles são o coração da Bíblia, a partir do qual toda ela é entendida com profundidade. Mas eles são também o coração das nossas vidas.

É fundamental escutar, meditar ou ler o Evangelho dia a dia. Proponho que você acompanhe, pelo menos, o Evangelho do Dia no programa Manhã de Luz. Não tenha pressa, mas tenha fidelidade e decisão.  Depois que você tiver um conhecimento mais aprofundado dos Evangelhos, vai poder - com o auxílio da Igreja - aprofundar-se nos outros Santos Livros.

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Referências:

[1] Dei Verbum, 18.

[2] Scott Hahn Salve, Santa Rainha: A Mãe de Deus na Palavra de Deus. Lorena: Cléofas, 2017. p. 29

[3] Ibid.

[4] Catecismo da Igreja Católica, 128.

[5] Scott Hahn. As Cartas de São Tiago, São Pedro e São Judas. Campinas, SP: Ecclesiae, 2020. p. 61

[6] S. Agostinho, Quaest. in Hept. 2, 73: PL 34, 623.

[7] Dei Verbum, 20.