Sofrimento
Espiritualidade

Jesus venceu as tentações! E você?

A meditação sobre as tentações que Jesus sofreu no deserto nos colocam perante uma questão fundamental. Nós devemos examinar a nossa consciência buscando maior conversão.

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Na Quarta-Feira de Cinzas, a Igreja entra com Jesus no deserto. É o começo do tempo litúrgico  da Quaresma. São quarenta dias de penitência, orações e caridade.  

Jesus foi conduzido ao deserto pelo Espírito, para ser tentado pelo diabo. Tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, teve fome. (Mt 4, 1-2)

Qual é o sentido da Quaresma? Por que nós somos chamados a participar deste tempo de provações? É o que vamos compreender hoje.

Primeiro, vamos meditar sobre o sentido do sofrimento e das tentações que nos afligem. Você vai aprender que o Amor de Deus também age na dor. Em seguida, vamos acompanhar as três tentações que Jesus sofreu no deserto, para aplicar a meditação às nossas vidas.

Este texto é um convite para você viver a melhor quaresma da sua vida!

Uma Luta de Vida e Morte

Algumas pessoas pensam que o sofrimento de Cristo nos livra de sofrer. Mas esse é um pensamento errado. A Igreja é o Corpo de Cristo. Ela deve participar de tudo que diz respeito à Cabeça (Cristo), inclusive seus sofrimentos.

Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo em favor do seu Corpo, que é a Igreja (Cl 1, 24)

Assim como Cristo foi levado pelo Espírito ao deserto para ser tentado, assim também a Igreja é levada pelo Espírito para ser tentada. Cristo venceu o diabo na Cruz, e nós devemos combatê-lo em nossas vidas.

Os membros [da Igreja] devem participar da luta da Cabeça, como um dia participarão de sua vitória plena e de sua glória. [1]

Lembre-se que você e eu somos Igreja.  Satanás é o nosso inimigo e continua a combater-nos.  As Sagradas Escrituras deixam claro que temos que lutar pela nossa salvação.  São Pedro, por exemplo, escreveu em sua primeira carta:

Sede sóbrios e vigiai. O vosso adversário, o diabo, vos rodeia como um leão a rugir, procurando a quem devorar (1Pd 5, 8)

Esta luta é a mais importante de nossas vidas. Temos que resistir às tentações, que são propostas de pecado. No entanto, nada conseguimos sem a Graça de Deus. Peça sempre a graça da perseverança ao Senhor Jesus.

Sem mim, nada podeis fazer. (Jo 15, 5c)

Precisamos vencer as Tentações

Convém esclarecer um ponto. Por que será que Deus permite as tentações? Uma resposta bem direta é que Ele permite porque nos ama!  Por meio das tentações, o Senhor obtém mais humildade dos Seus filhos.  

O Senhor corrige os que ele ama, como um pai quer bem ao filho. (Pr 3, 12)

Um bom pai corrige seus filhos por amor. Deus não lança tentações em ninguém (Tg 1, 13). Porém, o Senhor permite que ocorram tentações para que a nossa alma seja provada e purificada. Assim, com Seu auxílio, podemos crescer na fé.

Filho, se decidires servir o Senhor, permanece na justiça e no temor e prepara a tua alma para a provação. (...) Pois é no fogo que o ouro e a prata são provados e, no cadinho da humilhação,  os homens agradáveis a Deus. (Sb 2, 1.5)

Talvez um caso concreto nos ajude a entender um pouco mais desse mistério. São Francisco de Assis sofreu fortes tentações depois de ter recebido as chagas. Mas o santo ficava muito alegre, porque tinha uma profunda consciência do mistério da permissão divina. Ele sabia que aquele combate era para o seu próprio bem.

“Se os irmãos soubessem quais e quantas tribulações e aflições me cau­sam os demônios, não haveria nenhum que não se movesse de compaixão e de piedade para comigo”. [2]

Não foi um caso isolado. São Paulo, por exemplo, recebeu de Deus muitas revelações. Escreveu uma parte considerável do Novo Testamento. Porém, essa Graça tinha um risco: ele poderia ficar orgulhoso. O Senhor, então, permitiu que Paulo fosse tentado para ferir o seu orgulho.

E para que, pela grandeza das revelações, eu não me enchesse de orgulho, foi-me dado um espinho na carne, um mensageiro de Satanás para me esbofetear a fim de que eu não me tornasse orgulhoso. (2Cor 12, 7)

Mas tenha cuidado. Não existe apenas o lado positivo das tentações.  Nós podemos cair! Ao longo da história, o demônio obteve muitas vitórias em almas que se desviaram do que Jesus nos pediu. Temos que lutar, mas sempre com fidelidade ao Evangelho.

Naturalmente, esta é apenas uma visão positiva da história das tentações na Igreja; há também uma visão negativa feita de entregas, de vitórias parciais ou até mesmo totais do inimigo. Isto acontece toda vez que o cristão se separa do rebanho de Cristo para combater como lobo em vez de comportar-se como cordeiro. [3]

O Processo de Conversão

Chegamos ao ponto central da nossa meditação. Não basta ser católico, é necessário converter-se, dia a dia. Você já meditou sobre o que é a conversão? Ela é um processo que dura a vida inteira. Todo dia nós devemos nos entregar mais a Deus.

Cristo tentado pelo diabo. Pintura de Félix Joseph Barrias.

A meditação sobre as tentações que Jesus sofreu no deserto nos colocam perante uma questão fundamental para a nossa caminhada de fé. Nós devemos examinar a nossa consciência, buscando maior conversão: O que conta verdadeiramente na minha vida?

Com essa pergunta em mente, vamos refletir sobre as  três tentações do deserto. Como será que cada uma delas se relaciona com a nossa vida?

1. O Materialismo  

O tentador se aproximou e disse-lhe: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem pães!” (Mt 4, 3)

Transformar pedras em pães! O diabo sugeriu a Jesus que não se preocupasse tanto com a salvação das almas. Bastaria saciar as necessidades corporais, e tudo estaria resolvido. Mas não é assim que Jesus pensa.

Jesus afirma que o homem vive também de pão, mas não de pão: sem uma resposta à fome de verdade, à fome de Deus, o homem não se pode salvar. [4]

Essa é uma tentação sempre atual para todos nós. Em meio às dificuldades da vida, somos tentados a pensar que bastaria acumular riquezas para encontrar nelas a nossa paz. Que ilusão!

Nosso Senhor não negou que os homens devessem ser alimentados ou que a justiça social devesse ser pregada; mas afirmou que essas coisas não vêm em primeiro lugar. [5]  

Tenha cuidado com pensamentos que sugerem uma vida livre de problemas neste mundo. Não existe Paraíso na terra. É bom ter objetivos, conquistar coisas boas na vida; porém não devemos colocar nos bens materiais o nosso coração.

Como combate espiritual, você pode fazer penitências. Meditamos sobre elas neste artigo: “Qual Penitência Fazer na Quaresma?” Você já leu? É um texto que contém sugestões para você escolher penitências adequadas à sua vida.  

2. O Sensacionalismo

Então o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o no ponto mais alto do templo e disse: “Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Com efeito, está escrito: ‘A seus anjos Ele dará ordens a teu respeito’ e: ‘Nas mãos te carregarão, para que não firas teu pé em alguma pedra” (Mt 4, 5-6)

Lança-se do alto do templo! O diabo propôs que o Senhor agisse de modo desequilibrado! Fazer algo de “louco” para  “forçar” um milagre é tentar a Deus. Não tem nada a ver com a verdadeira fé! Nós cremos que Deus opera milagres, mas Ele age quando quer e como quer.

A resposta é que Deus não é um objeto ao qual impor as nossas condições: é o Senhor de tudo. [6]

A oração é uma arma fundamental para combater as tentações. Na oração nós nos colocamos sob o Olhar de Cristo. Planeje-se para fazer mais orações, conforme a sua realidade. Não se trata de aumentar a duração, mas a qualidade.

Aqui estão algumas sugestões de reflexão. Você visita o Sacrário para conversar com Jesus? Medita a Palavra de Deus? Será que é possível para você ir à missa com mais frequência na Quaresma? E o terço, reza todo dia?

3. A Dominação

O diabo o levou ainda a uma montanha muito alta. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua riqueza e disse-lhe: “Tudo isso te darei, se te prostrares para me adorar”. (Mt 4 8-9)

Os Reinos do mundo! Nesta tentação, o diabo tenta Jesus com o poder. Era uma forma de esvaziar o sentido da cruz. Um mundo sem amor nem humildade não consegue entender o mistério da mansidão de Jesus.

Para Jesus, é evidente que não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade e do amor. [7]

Como reagir aos anseios de dominação? Com caridade! A Igreja nos propõe um caminho de caridade, que são as obras de misericórdia. Existem obras de dois tipos: as corporais e as espirituais. O Catecismo da Igreja Católica ensina quais são elas.

Obras de misericórdia espirituais:
Instruir, aconselhar, consolar, confortar e suportar são obras de misericórdia espiritual, como também perdoar e suportar com paciência. [8]  
Obras de Misericórdia Corporais:
As obras de misericórdia corporal consistem em dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, dar moradia aos desabrigados, vestir os maltrapilhos, visitar os doentes e prisioneiros, sepultar os mortos. [9]  

O catecismo destaca uma obra de misericórdia em meio às outras. É a esmola dada aos pobres. Existem pessoas que vivem em situação de indigência, e nós podemos ajudá-las.

Dentre estes gestos de misericórdia, a esmola dada aos pobres é um dos principais testemunhos de caridade fraterna. [10]  

Nesta quaresma, comprometa-se com a sua conversão. Sempre há uma obra de misericórdia a mais que podemos prestar, servindo ao Senhor no irmão.  

O Sentido da Quaresma: Conversão

A quaresma é um tempo valioso para a nossa conversão. Ela requer um comprometimento com o Amor de Deus. Vai haver tentações, porque temos que lutar. Mas o Senhor nunca nos abandona. Confie em Seu Amor. Aproveite esta quaresma para chegar ao Domingo de Páscoa com uma amizade maior com Cristo.

Referências:

[1] Cardeal Raniero Cantalamessa. O Espírito Santo na Vida de Jesus. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2015. 9ª ed. p. 24.

[2] Fontes Franciscanas. Espelho da Perfeição, 99.

[3] Cardeal Raniero Cantalamessa. O Espírito Santo na Vida de Jesus. São Paulo, SP: Edições Loyola, 2015 9ª ed. p.25.

[4] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 13 de Fevereiro de 2013.

[5] Fulton Sheen. Vida de Cristo. Volume I. Rio de Janeiro: Pedra, 2018 p.75.

[6] Papa Bento XVI. Audiência Geral de 13 de Fevereiro de 2013.

[7] Ibid.

[8] Catecismo da Igreja Católica, 2447.

[9] Ibid.

[10] Ibid.