Espiritualidade

O Carnaval e Seus Perigos

Rezemos durante esses dias insistentemente o Ato de Reparação pelos pecados cometidos no carnaval.

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Mais uma vez, infelizmente, é tempo de Carnaval. Não há outra festividade que provoque tanta mobilização popular no Brasil. Ao longo dos anos, o Carnaval foi-se tornando mais que um feriado. Para alguns, é um símbolo da nacionalidade; para outros, um grande negócio.

E para nós?  O que é o Carnaval para nós, que cremos em tudo aquilo que a Igreja crê e ensina? Este é o tema que vamos abordar neste artigo. Você vai aprender um pouco de como o Carnaval surgiu. Em seguida, vai aprender como foi que a Igreja tentou lidar com ele. Finalmente, vamos apresentar três perigos que o Carnaval nos traz e algumas propostas de sobrevivência espiritual.

A Origem do Carnaval

O Carnaval é uma festa que remonta à Antiguidade. É difícil identificar com precisão em qual região surgiu, mas é consensual que a festa estava associada ao paganismo daquele período histórico.

Para os pagãos, o Carnaval podia ter mais de um sentido. Em geral, porém, as mitologias lhe atribuíam um caráter “purificador”, no qual se invocavam os deuses locais em favor das colheitas.

A ideia básica da mentalidade pagã era a de que, agradando aos deuses com extravagâncias, os homens obteriam resultados positivos. Havia muitos outros erros naquela mentalidade, como, por exemplo, a prática de sacrifícios sangrentos.

Os erros do paganismo tinham que ser denunciados, porque constituíam uma forte alienação e desviavam o homem do seu verdadeiro destino. Impediam-lhe de reconhecer que Cristo é o único e o verdadeiro Salvador, o único que indica ao homem o caminho para Deus. [1]

A Igreja e o Carnaval

À medida que a evangelização crescia, a Igreja entrava em contato direto com as práticas carnavalescas. Seu esforço foi o de separar o joio do trigo. Não se tratava de combater a alegria, mas sim o pecado.

É preciso entender que a Igreja não instituiu o Carnaval. Ela o encontrou, como um fato social, em vários povos antigos. Por meio da evangelização, foi ensinando aos povos os verdadeiros valores, afastando as pessoas da idolatria, do pecado, das superstições e festas mundanas que arrastam tantos ao inferno.

Será que o nosso mundo é tão diferente assim daqueles povos pagãos? Às vezes a distância nos ilude um pouco. O problema da idolatria não está superado. O mundo moderno cultua os seus ídolos: o prazer, o corpo, o dinheiro, as diversões e a si mesmos.

O mundo contemporâneo não criou, porventura, os seus próprios ídolos? Acaso não imitou – talvez sem dar por isso – os pagãos da Antiguidade, desviando o homem do seu fim verdadeiro, da felicidade de viver eternamente com Deus? [2]

Antes de avançar, é bom recordar que nós já meditamos sobre o problema da idolatria, que se manifesta de diversos modos. Você se lembra? Se desejar ler, clique aqui para acessar o artigo: “A Bíblia Proíbe as Imagens dos Santos?”. Vale a pena ler (ou reler) essa reflexão. A idolatria não tem nada a ver com as nossas imagens sagradas, que são permitidas pela Bíblia.

O Carnaval Hoje

O Carnaval chegou ao Brasil há muito tempo. A sua história passou por muitas fases. Não nos convém investigá-las neste artigo. O que nos importa é o Carnaval de hoje entre nós. Quais são os perigos a que estamos expostos?

Um bom ponto de partida talvez seja uma experiência extraordinária aprovada pela Igreja. Há quase noventa anos, quando o Carnaval era menos agressivo que hoje, Santa Faustina recebeu um conhecimento místico da gravidade dos pecados durante aquele Carnaval:

Nestes dois últimos dias de carnaval tive a experiência da enorme torrente de castigos e pecados. O Senhor me fez conhecer, num instante, os pecados do mundo inteiro cometidos nesse dia. Desfaleci de temor e, apesar de conhecer toda a profundeza da misericórdia de Deus, admiro-me que Deus permita que a humanidade exista. [3]

Se foi assim em 1937, como não será em 2025? Tenhamos cuidado para não sermos negligentes. Todo pecado é grave, pois não há pecado que não fira o Senhor na Cruz. Você reza pela conversão dos pecadores?

Um Bom Combate

Chegamos ao ponto de apresentarmos três perigos deste tempo, mas também algumas sugestões de combate espiritual.

1. A Relativização do Pecado

Você já percebeu que o mundo propõe a relativização dos valores do Evangelho? Nesses dias de Carnaval, por exemplo, um dos perigos é a banalização do pecado.  Muitos agem como se a vida moral pudesse ser suspensa por alguns dias, sem consequências.

As pessoas que relativizaram os valores morais do Evangelho se esquecem dos problemas seus e dos outros e se dedicam à orgia, como se esta fosse a solução para todos os males. Infelizmente, não é. [4]

Tenha cuidado com o que você vai assistir na televisão ou na internet nesses dias. Além de correr o risco de convalidar a promiscuidade com a sua audiência, você pode ferir o seu coração com imagens obscenas.

2. A Ocasião do Pecado

Já vimos, em outro artigo, que fugir das ocasiões de pecado é um dever moral: “Como evitar as recaídas nos pecados”. Santo Afonso de Ligório nos ensina que existem dois tipos de ocasião de pecado. Algumas são ocasiões remotas; outras, mais próximas.

Será que, no Carnaval, as ocasiões de pecado não se tornam ainda mais próximas? Tenha cuidado para não se deixar arrastar pelo ambiente geral de libertinagem. O Tentador pode sugerir a você que “tudo é permitido”.

Muitas pessoas se tornam escravas de seus instintos, prejudicam-se, prejudicam outras pessoas e, quando tudo passa, vem o arrependimento, um vazio enorme, um coração insatisfeito. [5]

Estes dias de feriado são um bom momento para fazer um retiro. Você já buscou saber se existe algum bom retiro católico perto de você?

Outra sugestão é que, se for necessário para você, evite o contato com pessoas que possam conduzi-lo ao pecado. O Tentador pode usá-las para fazer convites obscenos. Aconselhe-se antes com seu confessor, para agir com discernimento. Cada caso é um caso.

3. O Barulho Interior

Há pessoas que não se envolvem com o Carnaval. Elas buscam se preservar dos males deste tempo tão difícil. Mesmo assim, elas acabam alcançadas pelos barulhos do mundo porque não silenciaram.

Poucos estão dispostos a se deparar com Deus no silêncio, vindo abrasar-se nesse grande face a face. [6]

É preciso silenciar para escutar a Deus. Você resguarda o seu coração da barulheira do mundo? Nós devemos reservar um tempo para o silêncio interior. A leitura da Palavra de Deus acalma o nosso coração e nos conduz a um silêncio de escuta.

Na vida de oração, precisamos de apoio, pois sempre corremos o risco de ficar longe de nós mesmos, invadidos por todos os tipos de ruídos, sonhos e lembranças. A leitura silenciosa da Bíblia é o melhor instrumento. Os Evangelhos nos põe diante de Cristo. [7]

Aproveite o feriado para aprofundar na leitura orante da Bíblia.  Não sintonize a sua televisão nem o seu coração com o frenesi do Carnaval. É melhor abrir-se ao silêncio no qual Deus nos fala ao coração. Você pode, por exemplo, aproveitar o feriado para fazer a leitura, o estudo e a meditação de um texto das Sagradas Escrituras. A Escola Bíblica pode ajudar você nessa caminhada.

Tudo Passa

Nos mantenhamos firmes na caminhada que Cristo nos propõe. Estejamos certos de que Ele está sempre conosco.

Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos. (Mt 28, 20b)

Por mais que o mundo se afaste de Deus, nós somos livres para escolhermos estar com o Senhor.  Tenham cuidado com os perigos que nos rondam. Somente em Cristo seremos felizes.

Reze durante esses dias o Ato de Reparação pelos pecados cometidos no carnaval.

Ato de Reparação para os dias de Carnaval

Coração dulcíssimo de Jesus, Coração hóstia, Coração vítima, para quem os homens ingratos só têm esquecimento, indiferença e desprezo, permiti aos Vossos filhos devotos virem neste dia pedir misericórdia a Vossos pés, e dar-Vos reparação pública pelas traições, atentados e sacrilégios de que sois vítima adorável em Vosso Sacramento de amor.

Ah! Pecadores nós mesmos, apenas ousamos apresentar-nos a Vós! Todos tememos e a todos nos falta coragem para elevar a voz em favor de nossos irmãos...

Entretanto, ó Jesus, confiados na infinita bondade do Vosso Coração, e prostrando humildemente perante Vossa Majestade Santíssima, tão indignamente ultrajada pelos crimes que inundam a terra, ousamos dizer-Vos:

Senhor, não castigueis!... não castigueis!... ou, pelo menos, não castigueis ainda!... Vosso indulgente amor perdoará nossa temeridade!

N. O Coração de Jesus! Coração tão generoso e tão terno. Coração tão amante e tão doce, graça e perdão primeiramente para nós, pobres pecadores:

R. Graça e perdão para os pobres pecadores!

N. Aceitai nosso desagravo e nossa reparação pública pelas blasfêmias com que a terra tremendo ressoa:

R. Graça e perdão para os blasfemadores!

N. Reparação pública pelas profanações de Vossos sacramentos e dos dias que Vos são consagrados:

R. Graça e perdão para os profanadores!

N. Reparação pública pelas irreverências e imodéstias cometidas no lugar sagrado:

R. Graça e perdão para os sacrílegos!

N. Reparação pública pela indiferença que de Vós aparta tantos cristãos:

R. Graça e perdão para os ingratos!

N. Reparação pública por todos os crimes... ainda uma vez, meu Deus:

R. Graça e perdão para todos os homens!

Oremos:

Ó Deus eterno, Deus de bondade! Aceitai nosso arrependimento, acolhei benigno as nossas súplicas, em consideração do Coração adorável do Vosso divino

Filho, que vela em todos os santuários, vítima permanente por nossos pecados! Seja ouvida em nosso favor a voz de seu Sangue Preciosíssimo.

Desça, Senhor, a Vossa graça sobre todos os homens, penetre todos os corações... cessem as ofensas... estabeleça-se Vosso divino amor, reine ele, e triunfe nos corações de todos os homens, a fim de que todos gozem um dia convosco no céu! Assim seja.

Referências:

[1] Homilia do Papa Bento XVI por ocasião dos 150 anos das Aparições de Nossa Senhora de Lourdes.

[2] Ibid.

[3] Santa Faustina. Diário: A Misericórdia Divina na Minha Alma. Apostolado da Divina Misericórdia, 2016. 41a Edição. Parágrafo 926.

[4] Dom Eurico dos Santos Veloso. O Carnaval.

[5] Ibid.

[6] Cardeal Robert Sarah. A Força do Silêncio: contra a Ditadura do Ruído. 2.ed São Paulo, SP: Edições Fons Sapientiaes, 2019.  p.71.

[7] Ibid, p. 61.