Sagradas Escrituras
Tradição

Como a Bíblia está Organizada?

Os cristãos veneram o Antigo e o Novo Testamento como verdadeira Palavra de Deus.

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Nesta série de estudos, nós já meditamos sobre a parte mais importante da Bíblia. Você se recorda? São os Santos Evangelhos. Aprendemos que eles são o critério de leitura para entendermos toda a Bíblia. Vimos, por exemplo, como Jesus e os Apóstolos liam o Antigo Testamento.

Hoje nós daremos um passo a mais. Vamos estudar como a Bíblia se organiza. Veremos que o Antigo e o Novo Testamentos são uma compilação complexa, porém coerente, de textos sagrados.  

A estrutura do Antigo Testamento

O Antigo Testamento é composto de quarenta e seis livros. Trata-se de uma parte indispensável da Bíblia, escrita antes do nascimento de Cristo. É importante sabermos que a vinda do Senhor não eliminou a sua importância para as nossas vidas:

Os cristãos veneram o Antigo Testamento como verdadeira Palavra de Deus. A Igreja sempre rechaçou vigorosamente a ideia de rejeitar o Antigo Testamento sob o pretexto de que o Novo o teria feito caducar. [1]

O Antigo Testamento não é um conjunto uniformizado de textos. Nele há diversos estilos literários, como, por exemplo, poemas no Livro dos Salmos ou narrações no Livro de Gênesis. Além disso, muitos são os temas tratados.

Para lidar com esta complexidade, costuma-se dividir os livros do Antigo Testamento em grupos menores. É o que veremos agora.

Pentateuco

Os cinco primeiros Livros do Antigo Testamento são conhecidos como Pentateuco. São os Livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.  Há uma longa tradição judaica e cristã que vincula os quatro últimos ao legado de Moisés.

Do Êxodo ao Deuteronômio, nós acompanhamos muitos acontecimentos da vida de Moisés. Um aspecto, porém, se destaca: a leitura vai nos conduzindo cada vez mais para dentro do relacionamento entre Deus, Moisés e o Povo. O Papa Bento XVI nos ensina que, no coração de Moisés, o amor a Deus e aos irmãos se unem em oração:  

Lendo o Antigo Testamento, uma figura ressalta no meio das outras: a de Moisés, precisamente como homem de oração. Moisés, o grande profeta e guia do tempo do Êxodo, desempenhou a sua função de mediador entre Deus e Israel fazendo-se portador, junto do povo, das palavras e dos mandamentos divinos, conduzindo-o rumo à liberdade da Terra Prometida, ensinando os israelitas a viverem na obediência e na confiança em Deus, durante a sua longa permanência no deserto, mas também, e diria principalmente, rezando. [2]

É uma bela narrativa, mas o Pentateuco não contém apenas narrativas. Ele traz muitas normas e leis morais também. Por isso, os judeus costumavam chamá-lo de Lei (ou Torá). Como cristãos, cremos que a Lei é válida. Mas ela somente revela seu sentido pleno em Jesus Cristo:

“Cristo é a finalidade da Lei” (Rm 10, 4)

Finalidade significa a razão de algo existir. Para não ficar abstrato, vamos dar um exemplo bem palpável.  Qual é a finalidade de um casaco? Aquecer. O aquecimento do corpo é a razão pela qual o casaco existe. Aquecer é, então, a finalidade do casaco.

A Lei é uma preparação para o Evangelho. O Senhor não veio para abolir a Lei, mas para levá-la à plenitude:  

Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para completar (Mt 5, 17)

Muitas pessoas têm dificuldade com o Antigo Testamento porque não o leem a partir de Cristo, como a Igreja nos ensina a fazer.

Na nossa Escola Bíblica os alunos aprendem a fazer a leitura da Sagrada Escritura vendo sua realização em Cristo e compreendendo profundamente o sentido das passagens bíblicas. Se você também quer aprender a interpretar a Bíblia, clique aqui e faça sua matrícula na Escola Bíblica do Padre Alex Nogueira.

Livros Históricos

Os Livros Históricos vêm logo após o Pentateuco. Ao todo, são dezesseis Livros: os Livros de Josué, Juízes e Rute; o Primeiro e o Segundo Livros de Samuel; o Primeiro e o Segundo Livros de Reis; o Primeiro e o Segundo Livros de Crônicas; os Livros de Esdras, de Neemias, de Tobias, de Judite, de Ester; e o Primeiro e Segundo Livros dos Macabeus.

Hoje em dia, se você for a uma livraria vai encontrar muitos livros de História. Geralmente, eles são cheios de fotos, mapas, documentos. Não era assim na época em que o Antigo Testamento foi escrito. Para aquelas gerações,  “história” era um relato bem feito de algum acontecimento:

Na Antiguidade, “história” era o que hoje chamamos de crônica, relato, história exemplar ou didática. Importava a arte de bem contar a história, de modo que fosse gravada na memória e conhecida por todos, transparecendo com clareza a sua mensagem. [3]

Ao longo dos Livros Históricos, nós acompanhamos o relacionamento do povo com Deus. A infidelidade deste povo teve, muitas vezes, consequências desastrosas. Assim, por exemplo, o relato do exílio na Babilônia (2 Rs 25) encontra-se nesta seção do Antigo Testamento.

Antes de concluir este ponto, é bom recordar que alguns desses Livros Sagrados não constam nas edições protestantes da Bíblia. Não trataremos deste tema aqui, pois já publicamos um bom texto sobre o tema, trata-se do artigo: “Qual a diferença entre a Bíblia Católica e protestante”

Livros Sapienciais

A terceira parte do Antigo Testamento são os Livros Sapienciais. Eles tratam da infinita Sabedoria de Deus. São os Livros de Jó, dos Salmos, dos Provérbios, do Eclesiastes, do Cântico dos Cânticos, da Sabedoria e do Eclesiástico, que também é conhecido como Livro do Sirácida.

Por meio de elementos culturais, próprios daquele tempo, o Espírito de Deus nos fala nestes Livros de modo sempre atual:

O caráter ora poético ou contemplativo, ora meditativo ou didático, lhes confere uma atualidade que transcende o tempo e o espaço. [4]

Livros Proféticos

Os Livros Proféticos (ou os Profetas) são a quarta parte do Antigo Testamento, imediatamente anterior ao Novo Testamento. São dezoito Livros inspirados por Deus. É comum dividi-los em duas categorias: os Profetas Maiores e os Profetas Menores. É uma divisão que diz respeito à extensão dos Livros, não à importância de cada um:

Na Bíblia aparecem  os profetas maiores que são quatro: Isaías, Jeremias (que também escreveu Lamentações), Ezequiel, Daniel. Os menores são doze: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Embora haja grande diversidade de temas e estilos, existe um ponto central em todos os Profetas. Eles anunciam a fidelidade de Deus, que não recua perante as nossas infidelidades:

Deus fez aliança com o povo e não desiste. E para fazer com que o povo sempre volte à fidelidade, Deus o adverte e corrige, mas não desiste de lhe oferecer a salvação. [5]

O Novo Testamento

O conjunto de Livros que chamamos de Novo Testamento foram escritos depois que Jesus ascendeu ao Céu. Eles incluem estes textos: os quatro Evangelhos; os Atos dos Apóstolos; as Cartas de São Paulo, São Pedro, São Tiago, São João, São Judas e a Carta aos Hebreus; o Livro do Apocalipse. São vinte e sete Livros no total.

É importante que você saiba que o Novo Tratamento não é um manual de catequese. Seus temas não estão organizados em tópicos, como o Catecismo da Igreja Católica. Eles foram produzidos dentro da Igreja, conforme as necessidades concretas da Igreja e sob inspiração do Espírito Santo.

A Bíblia pressupõe a Igreja. O Novo Testamento não era um manual de usuário para uma Igreja ainda dentro da embalagem. A Igreja precedeu as Escrituras. Na verdade, todos os livros do Novo Testamento, exceto os Evangelhos, estão recheados de descrições de uma comunidade já bem estabelecida (...) [6]

Os Evangelhos

Os Quatro Evangelhos são o núcleo de toda a Bíblia. São a fonte de conhecimento da vida e doutrina de Cristo. É preciso que tenhamos intimidade com os Evangelhos.

“Tenhamos o hábito de levar sempre um pequeno Evangelho no bolso, na bolsa, para que possamos lê-lo durante o dia, pelo menos três, quatro versículos” [7]

Os Evangelhos de São Mateus, São Marcos e São Lucas têm uma característica comum. Os acontecimentos da vida de Jesus são apresentados de modo semelhante. É até possível organizá-los em três colunas paralelas, como se fossem um resumo organizado de um livro (sinopse).

O Evangelho de São João é organizado com outro método. Não se baseia em sequências de breves histórias, como os demais Evangelhos. Jesus é apresentado a nós por meio de discursos, diálogos e narrativas que, juntas, formam um todo coerente:

Este evangelho não é composto como os outros, de breves histórias, mas de grandes conjuntos em que se misturam narrativa, diálogo e discurso e, até, estilo dramatúrgico. [8]

Os Atos dos Apóstolos e as Cartas

Os Atos dos Apóstolos são uma continuação do Evangelho de São Lucas. Eles nos dão testemunho da história da Igreja em seus primeiros anos. Foi neste ambiente de Igreja que o Espírito Santo inspirou os Apóstolos a escrever as Cartas do Novo Testamento. Elas eram respostas pastorais às necessidades da Igreja:

Os Atos dos Apóstolos narram o estabelecimento da Igreja nas cidades visitadas pelos Apóstolos. As cartas de Paulo, Pedro, João, Tiago e Judas falam das preocupações gerais e dos questionamentos dessas comunidades espalhadas, pois foram estabelecidas pelos Apóstolos. [9] 

Mais uma vez vemos que a Bíblia não foi escrita do zero. Ela pressupõe a existência prévia da Igreja, bem visível e palpável. Os textos bíblicos foram inspirados na Igreja, em meio a situações concretas, e por ela foram preservados e transmitidos:

Não somente os livros separadamente pressupõem a existência da Igreja, mas também a coleção desses livros como um todo. Uma autoridade tinha de determinar quais livros seriam incluídos no Novo Testamento e quais não seriam porque as Escrituras não vieram com um índice que indicasse os livros inspirados que deveriam constar na Bíblia. [10]

O Apocalipse

O Livro do Apocalipse é o último livro de todo o Novo Testamento, com o qual se encerra a Bíblia. Ele não deve ser lido como um catálogo de destruições:

Muitos leem o Apocalipse como revelação das catástrofes que devem marcar o “último dia”, mas isso está errado. Jesus nos revela no Apocalipse a sua vinda para felicidade e alegria nossa. [11]

O Apocalipse nos recorda a importância de olharmos as nossas vidas a partir do Alto, do retorno de Jesus.

Um Convite para crescer espiritualmente através das Escrituras

Neste texto nós atravessamos muitas páginas e séculos. Ler a Bíblia é um convite que Deus nos faz. E tudo que vem de Deus só pode ser bom! Mas é preciso cuidado para não nos desviarmos do Espírito com que as Escrituras foram escritas:

Pois deveis saber, antes de tudo, que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular, visto que jamais uma profecia foi proferida por vontade humana. Ao contrário, foi sob o impulso do Espírito Santo que pessoas humanas falaram da parte de Deus. (2 Pe 1,20-21)

Compreendendo a grande dificuldade que muitas pessoas apresentam ao ler a Bíblia, o Padre Alex Nogueira criou uma Escola Bíblica, um local onde aprendemos a ler a Bíblia de acordo com os ensinamentos da Igreja e assim entendemos o seu verdadeiro sentido.

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Lembre-se que o estudo isolado pode apresentar dificuldades insuperáveis para quem não tem um grande entendimento das Escrituras. Essa é sua oportunidade de ser um aluno do Padre Alex Nogueira e fazer parte da melhor Escola Bíblica.

Referências:

[1] Catecismo da Igreja Católica, 123.

[2] Papa Bento XVI. Audiência Geral: 1° de Junho de 2011.

[3] Bíblia Sagrada. Tradução Oficial da CNBB. 5ª Edição. 2021. p. 263.

[4] Ibid, p. 684.

[5] Ibid, p. 1007.

[6] Scott Hahn. Razões para Crer. Lorena: Cléofas, 2017. p.82.

[7] Papa Francisco. Angelus de 24 de Janeiro de 2021.

[8] Bíblia Sagrada. Tradução Oficial da CNBB. 5ª Edição. 2021. p. 1464.

[9] Scott Hahn. Razões para Crer. Lorena: Cléofas, 2017. p.82.

[10] Ibid, p. 83.

[11] Bíblia Sagrada. Tradução Oficial da CNBB. 5ª Edição. 2021. p. 1680.