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Santo Antônio - muito mais que casamenteiro

Embora Santo Antônio seja conhecido e reconhecido no Brasil como o santo casamenteiro, ele tem muito mais a nos oferecer. Sua vida, ensinamentos e milagres o comprovam.

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Depois de São José, Santo Antônio é o santo mais conhecido e amado por católicos do mundo inteiro, em especial no Brasil. Mas é triste vermos o quão pouco a respeito do santo os católicos sabem, já que muitas vezes se reduz a crendices e tradições populares, quando o melhor seria conhecer mais profundamente este santo tão querido por todos.

E você sabia que o nome de batismo de Santo Antônio não era Antônio? E que ele não nasceu em Pádua? Sabia que ele foi um grande pregador e teólogo e é chamado doutor da Igreja? Ou então que ele tem uma parte do corpo incorrupta? Faça essa jornada de conhecimento a respeito do santo junino, passando por sua história e curiosidades a seu respeito.

Nem Antônio, nem de Pádua

Batizado como Fernando de Bulhões e Taveira de Azevedo, o glorioso santo, que depois se chamaria Antônio, nasceu na cidade de Lisboa, em Portugal, de onde sai o título “Antônio (ou Fernando) de Lisboa” (título muito comum em Portugal, por motivos óbvios).  O então Fernando nasceu no ano de 1195 em meio a uma família católica, e desde criança apresentava grande amor a Deus, profunda vida de oração e busca das virtudes.

Aos 15 anos entrou na ordem dos cônegos regulares de Santo Agostinho, pois percebia que se ficasse no mundo poderia pecar contra a castidade e valorizava grandemente a sua pureza. O santo passou algum tempo no convento de Lisboa e depois foi para o convento em Coimbra, grande centro cultural e religioso da época, onde adquiriu grande conhecimento e aprofundou sua vida de estudos, sem porém perder sua profunda humildade.

O jovem padre Fernando trabalhava em seu convento como porteiro, apesar de possuir grande ciência sobre as Sagradas Escrituras e a teologia. Mas em tudo buscava o escondimento em Deus, realizando a Divina Vontade em sua vida nas obras mais pequenas e escondidas, sem glória ou prestígio.

Um Mártir de Coração

Enquanto era porteiro no convento de Coimbra, São Fernando conheceu cinco frades franciscanos que passaram ali de viagem a caminho de pregarem o Evangelho aos Muçulmanos para os converterem. No ano seguinte, as relíquias dos cinco frades foram trazidos ao convento de Coimbra, após eles terem sido martirizados em Marrocos.

Comovido pelo exemplo e testemunho dos mártires franciscanos, Fernando decide se juntar à ordem de São Francisco e adotar o nome de Antônio em homenagem à capela de Santo Antônio, Abade, onde residiam os franciscanos em Coimbra. Santo Antônio se sentia impelido a viver a radicalidade do Evangelho como aqueles mártires, derramando o sangue por amor a Cristo, através da pregação e martírio.

Antônio então vai para a África buscando somar ao seu lírio (símbolo da pureza), a palma (símbolo do martírio). Porém no caminho, ele contrai malária e fica muito doente, sendo mandado de volta para a Europa, parando na Itália. Lá percebeu o dedo de Deus em sua sorte e soube que havia sido convocado um capítulo (reunião geral) dos franciscanos em Assis, e foi para lá, para conhecer o famoso “pobrezinho de Assis”.

Um Doutor Lavador de Louças

O frei Antônio era desconhecido entre os franciscanos e passou despercebido também por São Francisco, entre os três mil franciscanos presentes no capítulo em 1221. Por ele ser padre, foi então designado a uma pequena comunidade, “só pra celebrar a Missa”. A comunidade ficava junto de um monte, e Santo Antônio conseguiu a permissão para viver numa gruta do monte, descendo para junto da comunidade apenas para as orações e seus deveres.

Ali ele celebrava a missa, mas nenhum de seus confrades sabiam do grande tesouro de teologia e santidade. Conheciam-no apenas como um “exímio lavador de louças” já que sua função, além da missa, era ajudar na cozinha do convento.

Certo dia, a comunidade de Antônio foi chamada para uma ordenação e a se reunir após com uma comunidade de dominicanos (grandes estudiosos e doutores da teologia). Os dominicanos pediram que um dos franciscanos fizesse para todos ali uma pregação, comentando um pequeno trecho das escrituras. Por ser o único padre, e portanto o único que deveria saber alguma coisa de teologia, escolheram Antônio para pregar.

Todos os presentes se maravilharam com a pregação, espantando seus confrades que o conheciam apenas na cozinha e nas sóbrias Missas, e espantando os doutos dominicanos que não imaginavam tamanha ciência de um “pobre franciscano”.

Martelo dos Hereges

Depois de sua primeira pregação como franciscano, Antônio foi enviado para diversos lugares para pregar, em especial contra o Catarismo, uma heresia muito danosa na época e que arrastava os corações para longe da Igreja. O centro desse pensamento herético era a crença que o mundo material era mau e que o corpo físico que temos é uma prisão da alma pura que quer ser livre, então os adeptos da heresia viviam vidas muito rígidas, de jejuns, penitências e castidade, mas pelos motivos errados.

Santo Antônio, com seu grande conhecimento das Escrituras, sua oratória sem igual e seu exemplo de vida pobre, humilde e santa, arrastou os hereges, fazendo-os mudar de vida e se converterem. A vida do franciscano parecia ser o contrário exato da heresia, ele renunciava aos bens do mundo, não por ódio a eles, mas por amor a Cristo, e percebia que toda a Criação era boa e dom de Deus.

Por seu exímio trabalho e milagres relacionados à conversão dos hereges, Santo Antônio recebeu a alcunha de “Martelo dos Hereges”, pois com o poder de Deus, suas palavras e testemunho de vida, ele trouxe de volta muitas almas para Cristo, esmagando o erro e a heresia.

Arca dos Testamentos

Tamanho era o conhecimento e a fama de santo Antônio, que o papa o chamou para pregar para si e para os cardeais, e indo, surpreendeu a todos com sua oratória, cultura e doutrina acertada. O papa então o chamou de “Arca dos Testamentos”, demonstrando a familiaridade do santo com a Sagrada Escritura, que citava de cor e explicava esmiuçadamente.

O Santo de Lisboa também foi responsável por fazer São Francisco mudar de ideia em relação aos estudos, pois ao ficar sabendo das histórias do padre franciscano pregador, reconsiderou sua postura de que o estudo era oposto à pobreza e a humildade, vendo em Antônio o exemplo de como as duas coisas podem andar juntas. Escrevendo-lhe uma carta, o Santo de Assis chama Antônio de “meu bispo” – em referência à autoridade e poder de ensinar a doutrina, atribuída aos bispos – e pede que ele ensine a outros franciscanos a Sagrada Teologia, sem deixar que esse estudo esfrie as chamas da caridade e humildade.

Por algum tempo, cumprindo a ordem de ensinar, Santo Antônio escreveu seus Sermões, uma obra prima da literatura espiritual e um guia acertado de meditação e de pregação, e que atesta para o título que recebeu depois de “padroeiro dos pregadores”.

“Pádua, minha Jerusalém”

Santo Antônio além de professor também foi provincial dos franciscanos no norte da Itália, mas sua saúde ia se deteriorando, resquícios da malária que contraiu na viagem à África e que nunca se recuperou plenamente. Sabendo de sua própria morte e onde deveria morrer, ele renuncia a seus cargos e pede para ir à Pádua, onde há uma pequenina comunidade franciscana.

Na cidade, o santo continua seu ministério de pregação e caridade, ajudando pobres, convertendo hereges e lutando contra a usura (prática comum na época de emprestar dinheiro ou bens, cobrando juros abusivos). Sua fama só crescia e muitas pessoas da Itália e de outros lugares vinham conhecê-lo e ouvir suas pregações, ele porém sabia que seu fim estava próximo.

O santo chamava Pádua de “minha Jerusalém” sabendo que ali iria sofrer e morrer. Sua doença foi piorando e se retirou para uma capelinha nos arredores da cidade, onde os freis construíram um “púlpito” improvisado sobre uma árvore, onde o santo pregava e onde passou muitos de seus dias, dormindo e vivendo. Sentindo que a sua união permanente com Cristo se aproximava, Santo Antônio pediu para ser levado de volta à cidade. Já incapaz de andar, foi levado deitado num carro de bois e morreu às portas de Pádua.

Santo Súbito!

Santo Antônio morreu em 13 de junho de 1231, e ao chegar a notícia, todo o mundo se comoveu, e peregrinações eram feitas dias após dias para venerar o corpo do santo.

O papa Gregório IX, que conviveu com o santo em vida, canonizou-o menos de um ano após a sua morte, a canonização mais rápida da história. Um testamento à sua enorme e unânime fama de santidade. Em sua canonização, o papa o chamou de “Santo de Toda a Igreja” e entoou um cântico que é usado para o louvor dos santos Doutores da Igreja.

O título de Doutor Evangélico, reconhecimento da contribuição de santo Antônio para o desenvolvimento da doutrina e defesa da Fé da Igreja, só veio oficialmente com o papa Pio XII, menos de cem anos atrás, mas tanto o povo quanto a Igreja já o reconheciam extra-oficialmente desde sempre.

Entre os muitos milagres em vida e em morte, que atestam a favor da santidade do frei Antônio, um que representa muito a natureza do seu ministério é que o corpo do santo se deteriorou, mas a sua língua ficou incorrupta, intacta até hoje, quase 800 anos depois; uma graça de Deus que transparece a oratória e a pregação dele, totalmente dedicadas à Verdade e seu Evangelho.

Mais que um Casamenteiro

Santo Antônio é conhecido e reconhecido no Brasil como o santo casamenteiro, e de fato muitas pessoas conseguiram graças relacionadas a encontrar um bom par e viver um santo matrimônio, mas o santo tem muito mais a nos oferecer.

Busquemos santo Antônio em nossas dúvidas de fé, busquemos ele para abrir nosso coração à caridade, busquemos seu exemplo de amor a Jesus Cristo, busquemos Santo Antônio em sua pobreza exemplar e sua pregação exímia. Enfim, busquemos a santo Antônio em nosso dia a dia, busquemos a sua intercessão e também busquemos ler mais sobre sua vida e seus escritos.

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4 Atitudes Orantes de Santo Antônio

5 Milagres para conhecer Santo Antônio