Você sabia que a inveja é um dos pecados mais graves que existem? Algumas pessoas acham que a inveja é um problema menor, mas elas estão enganadas. A Palavra de Deus nos revela a gravidade da inveja:
Foi por inveja do diabo que a morte entrou no mundo, e a experimentam os que são do seu partido. (Sb 2, 24)
É preciso entender bem o que é a inveja. Trata-se de um tema importante para a salvação da sua alma. Neste texto, você vai aprender primeiro o que é a inveja e como ela se manifesta. Em seguida, você vai encontrar sugestões de combate espiritual a este mal.
Um Mandamento Esquecido
O amor a Deus é inseparável do amor aos irmãos. O Deus do amor quer que nós nos amemos. Precisamos, então, vigiar o nosso coração para saber se estamos caminhando conforme o que Ele nos pede.
Quem ama a Deus, ame também seu irmão. (1Jo 4, 20b)
Não será possível crescer na nossa fé sem assumirmos um firme compromisso com as consequências práticas do amor. Amar requer decisão. Você já percebeu essa verdade? Não é possível amar com o coração dividido.
Os dez mandamentos enunciam as exigências do amor de Deus e do próximo. [1]
Quem ignora os Dez Mandamentos ignora o próprio Deus. Eles são consequências práticas do amor. É que, para amar, o nosso coração ferido de pecado deve mudar. Muitas misérias devem ser combatidas e vencidas. A inveja é uma delas.
O invejoso viola um mandamento que se refere às intenções do nosso coração. Você conhece todos os mandamentos de cor? O décimo mandamento nos pede para eliminarmos a inveja de nós: “Não cobiçar as coisas alheias”.
A inveja é uma desordem grave. Deus nos pede para vencer a inveja. Mas lembremos: se Ele nos pede, é porque nos dá primeiro a graça para vencermos. Acolhendo a graça de Deus, nós podemos responder ao Seu Amor.
Um Mundo Cheio de Inveja
Todos nós temos desejos de obter bens neste mundo. Em si mesmos, esses desejos são bons. Assim, por exemplo, é bom desejar ter uma casa para viver ou um emprego para sustentar a família. Porém, esses bons desejos podem se tornar maus por culpa nossa.
Existe uma medida que temos que respeitar. Não podemos violar o justo direito do próximo, cometendo injustiças. Tampouco devemos desejar que o próximo se prejudique para que possamos obter vantagens, muito menos cobiçar injustamente o que lhe é devido.
Nós nos combatemos mutuamente, e é a inveja que nos arma uns contra os outros. [2]
A inveja pode nos conduzir às piores ações. O invejoso tende a agir sem pensar nas consequências do que deseja, porque pensa somente em si mesmo. Não olha para o próximo, nem se preocupa com Deus.
Muitos que, no mundo hoje, invejam as riquezas provavelmente perderiam suas almas se as tivessem. A inveja nunca pensa nas responsabilidades. Olhando somente para si, malbarata todo dom que cruza seu caminho. [3]
O nosso mundo materialista é um campo aberto à inveja. Já meditamos um pouco sobre o materialismo, você pode reler o texto se quiser em nosso artigo “O apelo de Nossa Senhora de Lourdes”. Vimos que, à medida que as pessoas se afastam de Deus, elas vão se fechando em si mesmas. O resultado é que muitos buscam a felicidade onde ela não se encontra. Neste vazio, perde-se o sentido da vida.
Se esta vida é tudo, os homens acham que deviam ter tudo já. Daí em diante, invejar os outros passa a ser a sua regra de vida. [4]
Caim: a Inveja da Graça Alheia
Mas tenhamos cuidado, nem sempre a inveja está direcionada a bens materiais. Podemos, sim, ter inveja até mesmo da graça de Deus! Foi o que aconteceu com Caim, que teve inveja de seu irmão Abel, a ponto de matá-lo (Gn 4, 3-8).
O ódio de Caim por Abel é desencadeado quando ele percebe que os sacrifícios do seu irmão agradam a Deus. O rosto do invejoso é sempre triste: o seu olhar está abaixado, parece examinar continuamente o chão, mas na realidade não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. [5]
A inveja é caracterizada por uma certa tristeza. O invejoso se entristece pelo bem que o outro recebeu, que lhe parece um mal para si mesmo. Falta-lhe caridade. Ele quer, então, apropriar-se injustamente do que é do outro.
Caim ficou muito irritado e com o rosto abatido. (Gn 4, 5b)
A inveja é uma espécie de doença da alma (ou vício capital). Por causa do Pecado Original, nós trazemos desordens no relacionamento entre a alma e o corpo. Muitas vezes desejamos algo contrário àquilo que sabemos ser o correto. Somos, no entanto, livres para optar pelo correto.
A inveja pode se tornar um pecado mortal. Ocorre quando o invejoso deseja um mal grave ao próximo. Foi o caso de Caim. O Senhor Deus lhe pediu que controlasse o seu pecado:
Se não agires bem, o pecado espreitará à tua porta. Ele te deseja, mas tu deves dominá-lo. (Gn 4, 7b)
Um Percurso Espiritual
Nós temos o dever de combater a inveja em nosso coração. O tema é certamente complexo, mas o Catecismo da Igreja Católica nos ajuda ao propor um caminho concreto:
O batizado combate a inveja pela benevolência, pela humildade e pelo abandono nas mãos da Providência Divina. [6]
Benevolência
Benevolência significa querer o bem do próximo. É uma arma contra a inveja. Assim, por exemplo, você pode fazer algo de bom em favor da pessoa invejada, como rezar por ela, pedindo ao Senhor que lhe dê mais graças.
Quando o triste sentimento de inveja quiser se aninhar em nosso coração, é preciso, de imediato, ‘agir-contra’, isto é, reagir com benevolência, desejar o bem da pessoa invejada, fazer o bem a ela e falar bem dela. [7]
Humildade
Peça a Deus o dom da humildade. A oração é a arma mais poderosa que temos. Você reza os Salmos? Há uma bela tradição devocional que recomenda a oração do Salmo 06 para o combate da soberba; e do Salmo 129(130), diretamente contra a inveja. Você pode conhecer mais sobre os Salmos em nosso artigo “Os Salmos na vida de oração cotidiana”.
Tenha cuidado com o orgulho. Muitas vezes não nos alegramos com a graça concedida ao irmão porque nós nos achamos melhor que ele. O orgulho opera por trás:
Toda palavra invejosa se baseia em um falso juízo sobre a nossa própria superioridade moral. Colocar-se na posição de quem julga faz com que nos imaginemos superiores àqueles que julgamos. [8]
Providência Divina
Nunca pense que a sua vida é regulada pela “sorte”. É Deus quem tudo provê para o nosso bem. É bom visitar o Sacrário e fazer uma ação de graças. Você agradece pelo que já recebeu? E pelo que não recebeu?
Ser agradecido pelo que possui também é muito importante para experimentar a ação de Deus. Às vezes, focamos nossa atenção no que falta, mas nos esquecemos de agradecer o que já temos. Na verdade, deveríamos agradecer a Deus sempre, inclusive por aquilo que não recebemos, pois, se tivermos a paciência necessária, com o tempo, acabamos por perceber que o que tanto pedimos, na verdade, não seria o melhor para nós. [9]
Lembre-se da Santa Missa: “Na verdade, é digno e justo, é nosso dever e salvação dar-vos graças sempre e em todo lugar, Senhor, Pai santo, por vosso amado Filho, Jesus Cristo.”
Recomeçar Sempre
Esta vida é o tempo da conversão! Não desperdicemos a graça que é conhecer as próprias misérias. Busque fazer um bom exame de consciência. Caso encontre pecado de inveja, busquem o confessionário com humildade e com desejo de mudança. Há muitas pessoas no Céu que, na terra, sofreram de inveja. Não tenham vergonha. O importante é chegar ao Céu.
Referências:
[1] Catecismo da Igreja Católica, 2067.
[2] São João Crisóstomo, Hom. in 2Cor 27, 3-4.
[3] Fulton Sheen. A Cruz, Vitória Sobre os Vícios. São Paulo: Molokai, 2018. p.31.
[4] Ibid, p.29.
[5] Papa Francisco. Audiência Geral de 28 de fevereiro de 2024.
[6] Catecismo da Igreja Católica, 2554.
[7] Professor Felipe Aquino. O que fazer para combater a inveja em nossa vida.
[8] Fulton Sheen. A Cruz, Vitória Sobre os Vícios. São Paulo: Molokai, 2018. p.33.
[9] Formação Canção Nova. Como viver da Divina Providência em tempos difíceis?